O Descanso, uma Necessidade da Mulher Multicultural

O Descanso como um Presente de Deus

“Abençoou Deus o sétimo dia e o santificou, porque nele descansou de toda a obra que realizara na criação.”

 (Gênesis 2:3)

Todo trabalho cansa e todas nós temos um limite. Quando fazemos de tudo um pouco na tentativa de realizar o máximo, com as melhores intensões, mas não respeitando a lei do equilíbrio, podemos ir para extremos.

Entrar em um ritmo de ativismo inconsequente é perigoso e pode ser fatal. Realizar é bom, conquistar traz boas sensações e podemos facilmente nos viciar em trabalho para receber dele um senso de pertencimento, importância e utilidade. Imagina só isso em relação ao Reino de Deus, como é bonito servir com nossas vidas a uma causa tão nobre e eterna, e somada com a aprovação e admiração que recebemos de outras pessoas podemos facilmente nos viciar no ativismo do trabalho do campo transcultural.

Mas fica grave mesmo é quando o trabalho se torna nossa identidade, nos apresentamos e nos reconhecemos no que fazemos e não quem somos realmente.

 Aprendemos a ser uma mulher multicultural heroína, que se desdobra em muitos papeis, se se doa e se sacrifica por tudo e por todos, que se negligencia muitas vezes e não tem tempo para se cuidar e para descansar. Por vezes reclamamos e em outras nos gabamos desse estereótipo. Voltamos sempre para nossa desculpa de estimação: “não temos tempo para descansar” ou “Essas são minhas renúncias”. E se não reconhecemos a importância das pausas, perdemos a produtividade de um corpo e mente sadios e desonramos um mandamento.

Não se dar pausas, pode também apontar para uma falha no entendimento da teologia do descanso. Algumas de nós não consegue parar e, se tem tempo livre, tentará ocupa-lo de qualquer maneira. O trabalho se torna então uma fuga. De que? De quem? Precisamos investigar.

1. A mente precisa descansar

 Você vai perceber que o descanso vai muito além do que imaginamos. Não é simplesmente deitar na cama, rede ou sofá. Afinal, nem todo cansaço está no corpo. E aqueles dias que dormimos a noite toda, mas acordamos exaustas? E a fadiga que acompanha durante o dia, que se confunde com preguiça, mas você sabe que algo não está bem. Você se sente cansada constantemente? Tem tido dificuldade para ter paz e alivio? Nem se lembra mais da última vez que se sentiu relaxada e despreocupada? Seu corpo e mente reclamam do ritmo que você tem levado a vida? Pare para ouvi-los antes que seja tarde demais.

Precisamos com urgência incluir o descanso em nossa agenda e ter sempre programado alguns momentos para recarregar as baterias durante o dia em curtos períodos e na semana, num espaço de tempo maior.

O excesso de trabalho físico, pode gerar grande fadiga, rigidez e dores por todo corpo. Geralmente vem nas atividades domesticas, especialmente naqueles dias de faxinas que tiramos tudo do lugar.  Ou dos dias de longas caminhadas em visitas e evangelismos. Nesses casos, o repouso e uma massagem são uma boa pedida e um sono de qualidade é restaurador. Mas outras vezes nosso cansaço é mental, especialmente com grande esforço intelectual nos estudos, preparos de palestras, sermões e atividades que demandam concentração.

Até quando estamos tentando achar a solução para um problema, ou o esforço de gerenciar o sustento sempre tão limitado. Nesses casos precisamos convidar nossa mente para passear. Buscar assuntos mais leves, e praticar algo lúdico e descontraído.

2. Há um cansaço espiritual

Também existe uma constante batalha espiritual em nosso trabalho, quer estejamos cientes ou não. E se não estamos bem posicionadas nessa guerra, somos atingidas e abaladas facilmente. Os sintomas costumam ser, falta de ânimo para buscar a Deus, sensação de falta de valor próprio, você perde sonhos e senso de propósito. Não há força para continuar perseguindo a vontade de Deus. Esse cansaço espiritual pode ser combatido com devocional diligente (aquele que você faz mesmo sem vontade). Invista na contemplação, na gratidão e na comunhão. Quando estamos cansadas espiritualmente temos a tendência de nos isolar e é nesse período que ir à igreja é um processo de cura e restauração.

3. O cansaço pode ser emocional

Podemos confundir com mental ou espiritual, mas também existe um cansaço emocional. Nele nos sentimos a flor da pele, prestes a surtar. Há uma sobrecarga de emoções e se não sabemos navegar por elas somos facilmente engolidas por ondas de ansiedade, irritabilidade, perfeccionismo, insegurança, auto cobranças, medo e angustia. Entender que as emoções e sentimentos devem passar por nós e não mover o nosso comportamento e determinar nossas ações, faz toda diferença.

Como a Bíblia diz podemos sentir a ira, mas não fazer dela uma desculpa para pecar. Estar exausta emocionalmente é basicamente não conseguir navegar as próprias emoções. Para isso, é necessário autoconhecimento e conhecimento do alto. Busque se conhecer melhor, se puder, solicite ajuda profissional. Psicoterapia pode sim ser uma benção na sua vida!

 4. Os meios de comunicação podem atrapalhar meu descanso

Nessa geração que vivemos, rodeada de tecnologia e relações no digital, surgem novas formas de se cansar. A forte exposição a telas pode gerar um cansaço sensorial. A rapidez e filtros das redes sociais criam uma ‘realidade’ virtual difícil de competir com a vida real. Porque simplesmente não pulamos fora? Porque é no virtual que sustentamos relações com nosso pais de origem, com amados familiares e amigos, é por meio das telas que temos notícias de quem casou, se mudou, formou, teve filhos e etc.

Mas é ali também, que a saudade aperta, que as renuncias são visualizadas nas experiencias de outros e fica difícil segurar o contentamento na missão. Por isso tanta gente está desencorajada a investir em pessoas de verdade, na realidade geográfica que está, pois dá trabalho romper as barreiras culturais e construir pontes.

Amizades, relacionamentos e conversas cara a cara estão cada vez mais raras. Encontros e recepções nos lares se tornam escassos, tudo isso é considerado cansaço social, altamente influenciado pelo digital, que além de afetar as relações sociais, tem invadido mentes no chamado bloqueio criativo. Num mundo onde você encontra respostas rápidas em um click, fica difícil exercitar o cérebro para ser original. Esses novos tipos de cansaço sensorial, social e criativo devem ser combatidos com moderação no uso das redes e mais conexão com o mundo real. Assertividade no tempo de solitude e reflexão e de comunhão em boas e enriquecedoras relações.

Depois disso, talvez você diga: estou cansada de tudo e nem sem por onde começar! Calma, vamos voltar a falar da teologia do descanso.

5. O descanso é um mandamento

Quando a Bíblia nos mostra que Deus foi o primeiro a descansar, não diz que suas energias acabaram, ou que ele ficou fraco e impossibilitado. Deus é onipotente eternamente. Aqui a palavra descanso está associada a contemplação. Deus aproveitou e desfrutou do seu trabalho. Ele viu que tudo o que tinha feito era bom e descansou, parou para admirar. Quantas de nós trabalhamos sem nenhuma pausa de celebração, sem apreciar a obra de nossas mãos e sem louvar a Deus pela graça de poder servir, criar, suprir e realizar?

Deus deu a seu povo o “shabbat”. Uma ordem de descanso no sétimo dia da semana. Israel deveria experimentar o descanso do senhor, sendo por ele provido, e tirando esse tempo para repousar a alma na suficiência de seu criador. Mas, nem o povo de Israel nem nenhuma de nós conseguiu cumprir bem esse mandamento, pois o pecado nos distancia da obediência. Por amor, Deus enviou seu filho Jesus. Ele é o nosso shabbat, nossa salvação e descanso eterno.

6. O descanso é uma pessoa

O motivo de Jesus afirmar que ele é maior que o sábado, é que o descanso não está em um dia na semana apenas, o descanso é uma pessoa. Para nós, o verdadeiro descanso é Cristo. Ele é o lugar e o dia certo. Nele encontramos vida verdadeira, repouso, estabilidade, amor e salvação. Em vez de carregar fardos pesados das nossas tantas missões, podemos aceitar o convite do nosso senhor para tomar seu fardo que é suave e leve.

Querida mulher multicultural, ser cansada não precisa ser mais um adjetivo seu. Um dia, muito em breve, ouviremos a voz de nosso Cristo dizendo: “vinde bendita do meu pai, entra no descanso do teu senhor.” Até lá, vamos desfrutar desse presente diário que é o deleite no amor eterno do nosso Senhor Jesus Cristo e cuidar desse instrumento que Ele usa para levar seu amor e salvação as nações: nós mesmas!

Jade Simões Moreno é obreira multicultural, escritora e professora.Lidera o ministério de mulheres da missão Vida em Foco em Cabo Verde onde atua com a doulagem e estudos Bíblicos. É casada com Paulo Diego, mãe do Benjamin e da Abigail. A família está há 9 anos na África ocidental.

Jade Simões

Brasileira, natural do Ceará, é Obreira multicultural, escritora e professora. Apaixonada pela feminilidade, tem se dedicado ao ensino e discipulado de moças e mulheres. É casada com Paulo Diego, mãe do Benjamin e da Abigail. A família está há 9 anos na África ocidental.

2 comentários em “O Descanso, uma Necessidade da Mulher Multicultural”

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