Desafios na Educação do Filho de Terceira Cultura
Este texto é a continuação do artigo O planejamento educacional dos filhos e seus efeitos na longevidade do ministério. Nele, é abordada a significativa importância de apoiar obreiros transculturais no desafiador equilíbrio entre a permanência no campo transcultural e as necessidades educacionais de seus filhos, conhecidos como Filho de Terceira Cultura (FTC). Além disso, a autora explora como questões relacionadas à educação, especialmente nos níveis médio e superior, frequentemente levam muitas famílias a retornarem à pátria, muitas vezes de forma definitiva.
Nesse contexto, o texto discute alternativas relevantes, como o homeschooling e o ensino no Brasil, com o objetivo de minimizar os impactos dessa transição. Dessa forma, destaca-se que planejar o futuro educacional do Filho de Terceira Cultura (FTC) é essencial para garantir opções viáveis e evitar interrupções no ministério. Ainda, enfatiza-se a importância de estratégias eficazes que estimulem obreiros experientes a retornarem ao campo após o período crítico de reentrada dos filhos, o que contribui diretamente para fortalecer o trabalho missionário global.
Imagine que você está dirigindo seu carro. Enquanto segue viagem, você passa por uma curva e, de repente, um obstáculo aparece na sua frente (talvez uma vaca!). A reação típica seria de pânico, o que poderia levar a virar bruscamente para o lado. No entanto, essa reação pode facilmente resultar em um acidente e, consequentemente, na descontinuidade da viagem. Por outro lado, com um desvio estratégico ao redor do obstáculo, seria possível evitar um acidente em potencial e voltar à estrada novamente. De maneira similar, podemos aplicar desvios estratégicos para contornar os obstáculos na carreira missionária, especialmente aqueles relacionados aos pontos cruciais na vida do Filho de Terceira Cultura.
A Reentrada do Filho de Terceira Cultura
A reentrada do Filho de Terceira Cultura (FTC) na pátria é conhecida como a etapa mais crítica da vida dele ou dela. Normalmente, ela acontece durante os últimos anos ou no final do ensino médio. Por isso, é recomendado que os pais acompanhem os filhos durante o primeiro ano (ou anos) da reentrada. Isso proporciona um senso de segurança para o filho nesse tempo importante da sua vida. Consequentemente, isso pode significar uma ausência prolongada do campo para a família e um novo endereço fixo na pátria, enquanto os pais se reintegram a um ministério ou profissão.
É neste ponto determinante que as famílias de trabalhadores globais tendem a sair da “rodovia” do trabalho fora de sua cultura e a não mais retornarem ao campo transcultural. No entanto, com um pouco de planejamento, o casal de obreiros pode fazer um desvio estratégico, cuidando das necessidades do filho primeiro para depois voltar ao campo e ter um ministério ainda mais rico e frutífero.
Planejamento Estratégico
O primeiro passo é claramente olhar para frente e também se preparar para o desvio. No entanto, muitas vezes, trabalhadores multiculturais tendem a “deixar a vida os levar”, pensando que “vai dar tudo certo”. Entretanto, esse tipo de pensamento pode contribuir para decisões tomadas como reação a uma necessidade imediata, em vez de projetos bem pensados. Por isso, com um pouco de planejamento e esforço, os pais podem tomar medidas para facilitar tanto a reentrada do filho na pátria quanto o próprio retorno ao campo.
Além disso, um bom preparo pode diminuir o tempo que o filho precisa para se readaptar na pátria. Uma maneira de fazer isso acontecer é planejar estrategicamente os tempos de licença na pátria, em relação à vida escolar dos filhos. Dessa forma, a ideia é tirar o máximo de proveito tanto para os pais quanto para os filhos.
Como as Licenças de Campo Podem Ajudar na Reentrada?
Os tempos de Licença para Atualização e Renovo (LAR), por sua vez, passados na pátria, ajudam os FTCs a sentirem que têm raízes no Brasil. Além disso, o tempo de LAR pode ser usado estrategicamente para preparar o FM para o futuro retorno definitivo à pátria.
No passado, a norma geral era que, após cada 4 ou 5 anos no campo, o trabalhador global tirasse um período de LAR de um ano. Com o passar do tempo, e com o transporte cada vez mais fácil, a dinâmica da LAR mudou e, hoje, é feita com mais frequência e de duração mais curta. Atualmente, é comum o obreiro voltar para a pátria de dois em dois anos por um período de 2 a 6 meses. De maneira geral, o tempo de LAR é determinado pelo ministério no campo, pela política da agência enviadora e, claro, pelas necessidades da família. Por exemplo, uma vez que as crianças estão na escola, a tendência é que a família limite as licenças às férias escolares.
Licença Longa: Benefícios Para o Filho de Terceira Cultua (FTC) e a Família
Uma opção ao tempo de LAR é a licença prolongada de um ano, alinhada ao calendário escolar do país de origem. O ideal seria realizá-la antes da adolescência, considerando que essa etapa da vida do FTC exige maior estabilidade emocional e social. É quase sempre melhor que esse ano na pátria seja iniciado no começo do ano escolar no Brasil, caso o calendário escolar do campo seja diferente.
Para o Filho de Terceira Cultura, um ano na pátria pode proporcionar:
- Experiência de um ano escolar completo no sistema brasileiro;
- Consolidação da língua materna, tanto na fala quanto na escrita;
- Formação de amizades, algumas que podem perdurar pela vida toda;
- Vivência de todas as estações, com seus cheiros, sons, gostos e imagens;
- Participação em feriados brasileiros com a família, como Natal, Páscoa e Sete de Setembro;
- Fortalecimento dos relacionamentos e do senso de pertencimento à família extensa;
- Criação de raízes no Brasil.
Para os pais, a licença de um ano pode ser usada estrategicamente para:
- Realizar estudos e treinamentos especializados;
- Dedicar um tempo prolongado à igreja enviadora e tempos curtos a outras igrejas;
- Passar momentos de qualidade com os familiares;
- Renovar-se física e espiritualmente;
- Visitar a base da agência enviadora (talvez morar e trabalhar na base);
- Tratar da saúde;
- Atualizar-se com mudanças ocorridas em sua ausência.
Preparação Para o Retorno
Entendemos que há muitas variáveis, como o número e a idade dos filhos. Portanto, cada família precisa desenvolver a melhor estratégia para sua própria realidade. Além disso, o importante é pensar estrategicamente, evitando decisões precipitadas que, eventualmente, possam limitar as opções para os filhos no futuro.
Da mesma forma, também é fundamental que as expectativas sejam claras. Por exemplo, a igreja enviadora e a família podem esperar que, ao retornar com o filho, os pais também permaneçam na pátria. Por isso, é importante comunicar desde o início a intenção de retornar ao campo transcultural, bem como manter o foco nesse objetivo durante o período de licença.
Entendemos que há muitas variáveis, como o número e a idade dos filhos. Cada família precisa desenvolver a melhor estratégia para sua própria realidade. O importante é pensar estrategicamente, evitando decisões precipitadas que possam limitar as opções para os filhos no futuro.
Também é fundamental que as expectativas sejam claras. A igreja enviadora e a família podem esperar que, ao retornar com o filho, os pais também permaneçam na pátria. Assim, é importante comunicar desde o início a intenção de retornar ao campo transcultural, mantendo o foco nesse objetivo durante o período de licença.
Conclusão
Com um desvio estratégico bem planejado, é possível manobrar essa etapa da educação dos filhos, aproveitando-a para se atualizar e retornar ao campo renovado. O campo missionário carece de casais com maturidade e experiência, e o esforço de hoje terá grandes benefícios para o futuro da família e da obra.
Alicia Bausch Macedo é fundadora do Philhos, o ministério para o FTC, através da AMTB – Associação de Missões transculturais Brasileiras. Hoje ela e seu esposo Rosifran se dedicam a estes ministérios através do CIM Brasil/AMTB
Alicia é autora do livro Estamos de Mudança, e organizadora do Manual Flechas, e dos livros A Presença do Pai, Criando Filhos Entre Culturas e Estudante Global.Extra – Alícia Bausch Macedo: Estudou no Elim Bible Institute em Rochester Nova Iorque, USA. É trabalhadora global da AMEM (WEC Brasil) desde 1985.
Livros da Alicia: