O esforço de uma Mãe Multicultural, vai na mala do FTC para sempre
Quando iniciei minha jornada multicultural, eu não era casada e ainda não tinha filhos. Posso dizer que meu tempo era 100% dedicado ao trabalho fora de casa. Discipulado, acampamentos, evangelismo, preparação de materiais para EBD, e muitas outras atividades preenchiam o meu tempo, como de qualquer outra trabalhadora multicultural solteira ou casada sem filhos. No entanto, quando eles chegam, um novo ministério se inicia. O ministério de ser mãe!
Algumas vezes você pode ter um sentimento de que o seu trabalho no ministério de mãe não é tão importante e nem valorizado pelos membros de sua equipe, esposo e até mesmo pelos próprios filhos. A mãe, por vezes, pode ter a sensação de que o tempo investido dentro de casa, cozinhando, brincando com as crianças, lendo histórias para dormir, e todas as tarefas que implicam o cuidado na infância, é menos digno do que os outros ministérios. Graças a Deus que entendi a tempo. Entendi que todo esforço e tempo dedicado aos filhos, agrada a Deus e tem um grande significado. Mas será que vale a pena mesmo tanto esforço investido nesse ministério de mãe?
Sim, vale!
Nosso filho mais velho já levantou voo. Hoje se encontra distante de nós, vivendo o que Deus preparou para ele. Pude perceber que os detalhes do nosso dia a dia, tomaram significado para ele, ao ouvir algumas declarações ao longo desses três anos longe de casa, e mais recentemente ao ler uma mensagem que me enviou no dia das mães. Confira a seguir as palavras de um Filho de Terceira Cultura que nasceu no campo e hoje é grato pelo que vivenciou.
Declaração de um Filho de Terceira Cultura para uma Mãe Multicultural
“Hoje eu acordei com fome, e com tanta dificuldade de sair da cama. Saí da cama e a minha roupa ainda estava no cesto desde que eu as tirei da máquina, e o meu quarto estava do mesmo jeito que eu tinha deixado antes de ir dormir. A casa não tinha cheiro de nada, e não tinha nenhum som vindo de nem um lugar. Isso tudo me fez lembrar daqueles dias que eu era acordado por sua voz e abraços, que vinham correndo logo após um “Maaaa”. Se veio do seu filho ou de qualquer outra coisa, não importava, pois, você sempre aparecia.
Me fez lembrar de um tempo em que acordar com fome não me incomodava, porque eu acordava em uma casa cheirando a ovo frito, pão quente e manteiga, em uma mesa toda arrumada, com um prato e um copo de leite com chocolate esperando por mim. Me fez lembrar que eu acordava em uma casa arrumada, com minhas roupas dobradas, e meus brinquedos guardados.
Me fez lembrar de um tempo que eu podia ouvir o som dos seus esforços desde a sala, aquelas panelas batendo uma contra a outra, a faca cortando legumes, e a panela de pressão sinalizando que o almoço estava quase pronto. Me fez lembrar de um tempo que por mais que eu gritava “tô com fomeee”, eu nunca passei um pingo de fome.
Mas acima de tudo, hoje, nessa casa vazia, me lembrei de uma pessoa, que saía cedo para a mercearia, a tarde, e a noite, nem que fosse apenas para comprar um “biskrem” para mim (biscoito local). Uma pessoa que nos pôs para dormir, contando histórias, até que não aguentássemos mais. Que brincou com a gente, ainda quando tinha passado muito tempo limpando a bagunça de dois moleques e um cachorro. Que renunciou tudo o que a vida poderia oferecer, por nossa vida. Uma pessoa escolhida por Deus para suportar as dificuldades de uma terra tão distante, e de segurar a mão de um homem que prometeu nada além do que andar pela fé e suportar sofrimento, pobreza, e muita poeira. Que amou, amou, amou, e continua amando. Uma pessoa que merece o mundo inteiro, e ainda diría não se alguém a oferecesse.
Por essa pessoa eu estou vivo e saudável hoje, e é umas das razões que eu sei o que realmente significa amar. Sim, isso inclui os abraços, as brincadeiras, as comidas, as broncas, as risadas, e tudo mais. Mas, acima de tudo, o que essa pessoa me mostrou foi que amar é também deixar a si de lado, para acolher ao outro. Acolher a mim, ao meu irmão, ao papai, ao cachorro, a cada amigo que convidei e a cada criança que colocou o pé naquela nossa casa multicultural. Eu ouvi falar que muitas mães deixam de lado seu chamado para cuidar da família. Eu não acredito que esse foi seu caso. Deus não criou uma pessoa capaz de amar tanto e a todos dessa maneira para gastar esse amor. Acho que ele te fez ser mãe, porque ele sabia que você seria, e é, e sempre será, a melhor mãe – para mim, e para todos.
Eu te amo mãe, do fundo do meu coração.”
Ministério de mãe, oportunidade para impactar o mundo
Hoje, com os filhos adultos e na adolescência, posso olhar para trás e dizer que o tempo passou voando. Mas nem sempre temos esta percepção do tempo. Parece mais demorado naqueles dias em que nos sentimos esgotadas com a rotina da casa. Dependendo do país onde servimos, parece que gastamos mais tempo com os detalhes para sobreviver, tal como mercado, limpeza etc, do que com o trabalho que fomos desenvolver. Te animo a não ficar comparando o tanto de tempo gasto com o ministério do lar e as outras atividades. Primeiramente, Deus não tem essa escala de medida do sucesso. Ele está vendo o quanto de nossa vida tem como motivação glorificá-lo, servi-lo, amar com sinceridade ao próximo, sermos cuidadosos e responsáveis com o que ele nos confiou, e isso implica os nossos filhos.
Este é o tempo que Deus separou para você influenciar pessoas que podem impactar o mundo, fazendo diferença com valores verdadeiramente cristãos. Elas estão ao seu lado, todo o tempo, te observando, escutando o que você diz, e percebendo suas motivações. Estas pessoas que Deus te confiou, são seus filhos, os seus discípulos. Ore e peça a Deus prazer de estar com eles, criatividade para manter um ambiente aconchegante e de paz, forças renovadas para saber ser equilibrada e sabedoria para ser fiel a esse ministério que Deus te confiou.
Tenha ânimo, o Senhor está olhando para você e se agrada do seu ministério, mãe.
*FTC – Filho de Terceira Cultura
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