A Trajetória de uma Família Multicultural

Um relato de experiências incríveis, vivida por uma família multicultural

Você já percebeu como Deus vai tecendo nossa história, desde a infância, como uma linda colcha de bordados? Cada acontecimento, momentos bons e até mesmo os traumáticos, como fomos formados por nossos pais, enfim, cada experiência contribui para a próxima etapa da nossa vida e pode se tornar um ponto a mais para a grande obra final. Olho para minha vida e posso ver claramente esse obrar do Criador e seu propósito em fazer de mim uma mulher multicultural, ainda que eu tenha demorado entender isso.

O Chamado

Cresci em um lar cristão e sempre fui dedicada à obra na igreja, mas confesso que jamais imaginei ser um dia uma mulher multicultural, vivendo longe de minha família, e principalmente longe do meu país. Me formei em Biologia e atuava como professora na minha cidade. Mas o Senhor tinha algo mais para mim. Percebi que Ele me chamava para uma entrega maior e comecei a buscar a sua vontade.

Quando buscamos, encontramos, não é verdade? Quando tudo na minha vida parecia estar no seu devido lugar, eu escutei a voz do Senhor me chamando para o imaginável, deixar tudo para proclamar seu amor além das fronteiras. Assim me tornei uma mulher multicultural. Deixando tudo para começar uma jornada de fé e inteira dependência, rumo ao Senegal.

Relembrar de que estamos no campo transcultural, não por nossa própria vontade, mas pelo chamado do nosso Pai, nos revigora e fortalece no momento da prova.

O começo de uma Família Intercultural

Quando saímos para o campo transcultural, não podemos imaginar as muitas surpresas que teremos por lá, as experiências jamais vividas, e de como vamos ter que aprender tudo do zero. Manter um coração disposto a servir ao Senhor, era o meu maior desejo.  Estando seis anos no Senegal, pude servir em alguns projetos sociais da nossa base, tais como plantação de igreja, ministério com mulheres e crianças e na área da saúde.

A primeira etapa nesse país, servi ao Senhor solteira. Estando lá, conheci meu esposo, que na época estava na escola bíblica de formação pastoral. Com ele vi Deus solidificar nosso ministério como casal e logo depois fomos abençoados com o nascimento da Elena, nossa filha.

O Encontro com a Cultura Brasileira

Em geral, a trajetória dos obreiros multiculturais toma outras dimensões quando nascem os filhos. Antes da chegada deles, se tem disposição para estar em qualquer lugar, só pensamos em nós mesmos. Com os filhos, vem uma série de preocupação, se tem recursos necessários para um bebê, como será a saúde, educação etc.

Quando a Elena tinha 2 anos, fomos solicitados por nossa igreja para retornarmos ao Brasil para um treinamento e sermos enviados para atendermos uma necessidade no Malawi. Elena aproveitou a companhia dos primos, estudou em uma escolinha brasileira, cresceu na fluência do português sem esquecer do francês. E aqui começava uma nova etapa na vida de nossa filha.

Experiências Marcantes e Empolgantes de um FTC

A parte dolorosa

Muitas vezes pensamos que as crianças não sofrem no meio de nossas transições. A final, na maioria das vezes, elas não expressam em palavras o que estão sentindo. Mas, fazendo uma retrospectiva das transições na vida de nossa filha, podemos perceber quantas experiências dolorosas e outras incríveis ela teve que passar devido ao nosso chamado.

Quando chegamos ao Malawi, Elena estava com 3 anos. Muitos desafios estavam diante de nós. Não conhecíamos ninguém, era outra cultura, outro trabalho, outro povo e outro idioma entre muitos dialetos. A língua oficial do Malawi é o inglês. O choque cultural foi muito grande.

Fomos para uma base onde não tinha outras crianças. Havia levado uma série de DVDs infantis em português, além de jogos educativos e brinquedos para a Elena, mas parece que faltava sempre alguma coisa. De fato, ela estava muito isolada e as regras da base eram bem severas.

Ficamos três meses nessa base e depois fomos para a cidade onde alugamos uma casa e decidimos colocar a Elena numa escola. Tentei ensinar o básico em inglês para que facilitasse a vida dela na escola, porém não estava tendo sucesso.

O primeiro dia de aula na nova escola foi de muitas lágrimas. Fiquei uma hora na escola ouvindo o choro da Elena me chamando e fui para casa chorando. No segundo dia ela chorou um pouco, mas fui convencendo-a a fazer novos amiguinhos para poder ter a festa de 4 anos e por fim quando chegou no sábado ela queria ir para a escola. E quanto ao aprendizado do inglês, parece “mágica”. Como pôde aprender tão rápido?

A parte empolgante

Enfim, a Elena estudou em três escolas no Malawi, mas a terceira era uma escola internacional. Havia muitos filhos de obreiros, os quais tinham prioridade e muitos malawianos que pertenciam a uma classe social mais elevada. Nessa escola ela fez muitas amizades e entre essas havia a filha do vice-presidente da república. Por isso ela dormiu na casa da vice-presidência algumas vezes e algumas vezes a filha do vice-presidente esteve em nossa casa, tendo nossa residência ficado sob a guarda do exército malawiano durante o tempo que a menina estava lá.

As amizades não eram restritas apenas a essas crianças. O Malawi é um país onde quase 30% da população tem acesso à água potável, energia, boas escolas, enquanto mais de 70% da população está no outro extremo onde mal tem como se alimentar diariamente. Através do nosso projeto, Elena também fez amizade com crianças dessa classe social, aprendendo a compartilhar com aquelas que nada tinham.

A Pandemia

Estava em nossos planos sair do Malawi no final de 2020 e assim aconteceu. Ainda estava no auge da pandemia COVID-19 e a Elena com quase 12 anos. Chegando no Brasil ela sofreu muito, pois além das restrições de saída, se viu estudando sozinha em casa, longe das amizades. Com menos de um mês ela pediu para voltarmos para o Malawi. Foi necessário um acompanhamento com profissional para poder equilibrar todas essas emoções, o que ajudou muito e ela aos poucos foi criando laços com o Brasil.

Durante quase 9 anos que ficamos no Malawi, a história da Elena foi tão intensa que me surgiu o desejo de escrever um livro que contasse as aventuras vivida por nossa filha nesse país.

Pude perceber que há muitos pais que superprotegem seus filhos, não os deixando ter a experiência de viver uma nova cultura, de tal forma que as crianças deixam o país com certos traumas achando que esse roubou sua infância. Então não perca a oportunidade de deixarem seus filhos serem abençoados e ser uma benção para a outra nação.

“Elena no Malawi”, é um livro baseado em fatos reais. Meu desejo é que o leitor viage nessa aventura. Adquira o livro através do Whatsap +221 77 388 83 16

Regina Correa Barcellar Djibalene

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