Alegre Permanência

Essa seria a história de apenas mais uma menina comum, criada em uma fazenda e amiga dos animais. Em sua casa, no ritmo dos estudos e da vida do campo, livros eram lidos e suas ideias discutidas antes, durante e depois das refeições. Acima de tudo, porém, seus pais lhe ensinaram a amar a Deus e compartilhar do seu amor com todos ao seu redor. De forma muito natural, foi conhecendo o trabalho de outros cristãos que serviam no exterior. À medida que crescia, começou a perceber que Deus lhe revelava, lá no profundo do coração, que ela havia sido escolhida para passar a vida o servindo fora de seu país. O tão grande desafio foi aos poucos sendo aceito, antes mesmo que a maturidade lhe chegasse. O que ela já sabia, mesmo frente a um futuro tão incerto, é que a infinita graça do seu onipotente pai de amor estaria com ela a cada passo do caminho.

O início dessa estrada se deu quando começou a cursar a faculdade no exterior e fazer viagens de curto prazo. Optou por aprender mais sobre Deus e sobre a vida transcultural, e o seu chamado foi se confirmando enquanto ela se apaixonava por viver entre diferentes povos, línguas e nações.

Entretanto, antes mesmo que ela completasse vinte anos, uma outra paixão sorrateira também quis se instalar. E foi num romântico lago, numa noite estrelada, em que, pela primeira vez em toda a sua vida, ela teve o coração partido. Embora não quisesse, ela precisou se despedir de um moço-aspirante a príncipe encantado que por ela estava interessado, mas que não compartilhava do seu desejo de servir ao Senhor em terras estrangeiras. E sem ele ela continuou, com o peito doído e uma grande certeza de que estava tomando a decisão certa. 

Alegre permanência

Mudou-se então para um país africano, onde, com muito afinco, estudou e aprendeu a língua local. Instalou-se e fez daquela terra e daquela cultura o seu lar. Pôde, com alegria, compartilhar do amor do seu Pai com muitos dos seus vizinhos. Sentiu na pele a solidão da vida transcultural, mas firme permaneceu, graças à ajuda sobrenatural que recebia dos céus. E, como a Palavra não era publicada na língua daquele país, ela foi se envolvendo (e eventualmente liderando) o programa de tradução dos textos sagrados para o idioma do povo com o qual habitava.  

Foi então mais uma vez cortejada por um outro alguém que muito amava a Deus e que também buscava servi-lo com todo o seu coração. Um moço do Reino, mas que também não estava disposto a trabalhar no país onde a moça servia. E, assim, ela se viu novamente tendo que ser fiel ao chamado que Deus lhe havia dado. Não era fácil e muitas vezes parecia até mesmo injusto, mas ela obedeceu e, mais uma vez, permaneceu no campo. 

Algum tempo depois, apareceu-lhe mais um outro filho do rei. Um conterrâneo seu, que morava num país vizinho e que se mostrava interessado em algo bem mais sério. Contudo, ele parecia idealizar uma vida com ela que não tinha a ver com a sua realidade e nem com o seu trabalho de tradução. E ela se encheu de esperanças e até mesmo chegou a cogitar deixar o ministério de lado e partir para a próxima. Quem sabe, dessa vez, a mudança valeria a pena? Todavia, ela não teve paz no coração. Se fosse embora e deixasse para trás o seu serviço naquele campo, não haveria, naquele momento, ninguém disponível e capacitado para dar continuidade ao projeto. Ela então precisou ficar, e, com o coração apertado, escolheu mais uma vez confiar. 

Hoje a crescida menina ainda brilha a luz do seu Pai celestial naquele lugar tão cheio de trevas. O seu trabalho avança e muitas pessoas vêm se sentindo tocadas em poderem ouvir as Boas Novas em sua língua local. E é verdade que a solidão é difícil e a saudade da família volta e meia aperta. Apesar de tudo, ela é muito feliz e vê a graça de Deus inundar os seus dias de amor. Quando a vontade de desistir chega e seus pés vacilam, a Sua fidelidade sempre a surpreende. Ela ainda aguarda o seu próprio príncipe chegar, e confessa aos seus próximos que ainda ora muito por isso. Ela não sabe como o seu Pai responderá essas orações, mas conhece o Deus que a chamou e que a ama mais do que qualquer outra pessoa desse mundo. Ela vive, continua e alegremente permanece confiante naquele que sempre suprirá cada uma de suas necessidades. 

Rafaela Speckhann

É escritora, mãe, esposa e mulher multicultural.

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