Aprender Idiomas

Aprender idiomas é aprender a servir aos modos de Deus!

Eu me lembro muito bem da primeira vez que bloqueei ao precisar falar inglês em público. Foi logo antes de partir para o exterior para um intercâmbio, quando eu tinha quase 21 anos. Eu estava indo estudar e morar em uma escola internacional, onde precisaria falar inglês o dia inteiro, com professores e alunos oriundos de diversos países.

Eu me formei em Letras e, naquele período, estava tendo cerca de 8 horas de aulas de inglês por semana. Além disso, também praticava um pouco de inglês fora da sala de aula, com alguns estrangeiros que vinham visitar a nossa cidade em projetos da igreja. Apesar disso, nessas ocasiões, eu me sentia preparada de alguma forma, pois sempre sabia quando precisaria falar ou traduzir o idioma. Entretanto, um dia fui pega “de surpresa” e, então, simplesmente não consegui me comunicar.

Tudo aconteceu quando precisei enviar meu passaporte para a embaixada do país onde iria estudar. Fui até os Correios com muita pressa, porque havia sido chamada para o intercâmbio de última hora e estávamos atrasados com os prazos de obtenção do visto. Assim que cheguei, peguei minha senha e, em pé mesmo, esperei ser atendida.

O Susto!

Foi então que um homem — lembro até hoje que era careca — se aproximou e me perguntou: “Do you know where I can get my number?” Naquele instante, congelei. Meu coração começou a disparar, e eu simplesmente não sabia o que dizer. Tudo o que eu havia aprendido desapareceu da minha mente. Eu tinha esquecido como falar a palavra senha ou como dizer que ele seria chamado para ser atendido no guichê. Por fim, eu sei que o que fiz a seguir pode não ter sido muito racional, mas foi a única reação que me pareceu natural naquele instante: virei as costas para aquele homem, caminhei na direção oposta e saí do correio. Eu simplesmente fui embora e deixei o moço falando sozinho.

Enquanto eu caminhava, sentia um misto de frustração e vergonha. Contei o ocorrido ao meu namorado, que não entendia o porquê de eu não ter respondido ao moço. Ele sabia que eu falava inglês. Eu também não conseguia entender. De fato, precisei voltar aos Correios naquela mesma semana, ainda envergonhada, mas sem saber explicar os motivos do que havia acontecido.

Faz 18 anos desde aquele episódio. Desde então, precisei superar a vergonha e o medo de errar. Precisei aprender a falar inglês, e falar muito! Por incrível que pareça, me tornei professora do idioma, aprendi outras línguas e morei em diferentes países, servindo em comunidades e ajudando pessoas que também desejam crescer no aprendizado de idiomas locais. Por isso, quando alguém me diz que tem dificuldade em se expressar em outro idioma, eu digo com total convicção: eu entendo muito bem. Isso já aconteceu comigo. Hoje, no entanto, eu sei que, para que o aprendizado de uma língua ocorra, é necessário que relembremos alguns pontos essenciais:

Por que nós devemos aprender idiomas?

CMM - Aprender Idiomas

Nós, mulheres do CMM, reconhecemos que aprender idiomas é essencial para se integrar bem em um novo país. Apenas ao compreender e falar a língua de um povo conseguimos descobrir as sutilezas escondidas em sua cultura. Quanto mais estudo idiomas, mais percebo que os verbos, as conjugações e as expressões linguísticas de um povo revelam muito sobre seus valores e sua cosmovisão. Isso é algo que a maioria dos visitantes não consegue acessar.

Ainda assim, aprender uma nova língua nunca é simples. Desde os primeiros dias de aula até o momento em que um imigrante fala o idioma com fluência, percorremos uma longa estrada. Nesse processo, cometemos um erro comum: acreditar que falar de forma fluida e correta é o objetivo máximo. Li, certa vez, que “uma língua não é uma arte a ser dominada, mas uma ferramenta a ser utilizada.” Concordo plenamente! Não precisamos dominar o idioma completamente antes de começar a nos expressar. A comunicação e a relação que construímos são mais importantes do que a precisão de cada frase. Além disso, quem ousa praticar, mesmo cometendo erros, aprende mais e mais rápido do que quem espera a perfeição para falar.

Não me entenda mal: embora falar bem seja um objetivo nobre, tentar imitar completamente a pronúncia e fluência nativa como meta final é insustentável. Com o tempo, aprendemos mais expressões, ganhamos fluência e aperfeiçoamos o sotaque. Contudo, isso só acontece quando praticamos muito e usamos constantemente o pouco que sabemos. Ser fiel no pouco para sermos colocados sobre o muito: um princípio bíblico que também guia o aprendizado de idiomas.

A mensagem que carregamos faz o esforço valer a pena!

As boas novas do evangelho são as melhores notícias do mundo, e viajar pelo mundo proclamando-as é um privilégio. No entanto, essa missão traz uma enorme responsabilidade, pois exige muito trabalho. Ainda assim, comunicar essa mensagem é importante, e vale a pena perseverar, mesmo nos dias mais difíceis!

Muitas vezes, sentimos a tentação de deixar a timidez dominar a nossa vontade de aprender, mas isso só nos atrapalha. Embora ninguém goste de passar vergonha, aprender um idioma novo exige enfrentar desafios inevitáveis. Quando começamos a falar essa nova língua, falamos como crianças (ou até como bebês!). Em alguns momentos, seremos alvo de risos, e o progresso dependerá da nossa capacidade de lidar com isso e de não deixar que os primeiros bloqueios nos façam desistir. Dias difíceis (como o meu fatídico dia nos Correios) podem ser apenas vírgulas no caminho, mas nunca o ponto final

É necessário basear nossa identidade em Cristo, e não em nossas capacidades intelectuais ou linguísticas!

confissões de uma mulher multicultural

Infelizmente, muitas pessoas altamente escolarizadas em suas línguas maternas enfrentam grande dificuldade ao se exporem à situação de falarem de maneira semelhante (ou até pior) do que crianças locais. Para quem está acostumado a sempre ter algo inteligente a dizer e a contribuir em qualquer conversa, lidar com uma habilidade linguística equivalente à de um infante pode ser extremamente desafiador.

Quando começamos a aprender uma nova língua, inevitavelmente passamos por fases em que não sabemos quase nada. Mais adiante, mesmo com um vocabulário em crescimento, ainda esbarramos na falta de palavras para argumentar. Isso nos faz sentir perdidos. Como os nativos nos veem? Apenas mais um estrangeiro que, por vezes, balbucia ou tropeça nas palavras? Na melhor das hipóteses, talvez alguém que aparenta saber algo, mas não consegue se expressar adequadamente.

Perspectiva da Graça

Eu entendo profundamente quem enfrenta essas dificuldades ao se expor. Quantas vezes já me senti ridícula! Travei em minhas orações com o povo local e, em outras ocasiões, preferi o silêncio por medo de errar. Mas, ao longo do processo, percebi algo essencial: há um ponto no aprendizado de um idioma em que precisamos permitir que Deus desconstrua a imagem que temos de nós mesmos ou que gostamos que outros tenham a nosso respeito. Só assim conseguimos progredir. Precisamos avançar.

É fundamental abraçarmos essa vulnerabilidade, sem basear nossa autoimagem na performance, na formação acadêmica ou na capacidade de defender nossos pontos de vista. Quando lembramos que somos todos igualmente pecadores, dependentes da graça de Deus, fica mais fácil relevar essas inseguranças. O aprendizado de idiomas precisa ser constantemente revisitado através da perspectiva da graça: não existe nada que possamos fazer para nos tornarmos mais ou menos dignos da admiração de Deus ou das pessoas. Somos todos amados por Ele, até mesmo enquanto ainda éramos seus inimigos.

Nossa identidade deve se firmar no Senhor e no seu amor revelado na cruz, e não em nossas capacidades linguísticas ou intelectuais. Precisamos deixar o ego morrer para, por amor ao povo e ao Senhor, prosseguir nessa missão. Afinal, a mensagem que carregamos tem um valor inestimável. Nossas inseguranças não podem vencer essa batalha: “Porque aquele que quiser salvar a sua vida, perdê-la-á, e quem perder a sua vida por amor de mim, achá-la-á. Mas aquele que poupar a sua vida a perderá, e aquele que a perder pelo reino a ganhará.”

Que sigamos firmes, não permitindo que o orgulho nos domine. Mesmo que nos sintamos diminuídos nesse processo de aprendizado, que Deus reine em nós e seja exaltado através de nossas vidas.

Ministrando transculturamente aos modos de Deus:

Quando você se sentir desmotivado, sem perspectiva ou cansado de ser alvo constante de chacotas, lembre-se de que o Espírito Santo, ao descer sobre o povo no Pentecostes, capacitou-os a pregar a Palavra na língua materna de quem os ouvia. Deus quer revelar Seu amor na língua do coração das pessoas. Por isso, entregue-se a esse processo, confie em Deus e abandone sua vida no Seu altar. Dessa forma, esse sacrifício vivo se tornará um instrumento poderoso nas mãos de Deus para fazer discípulos em todas as nações.

*Marianna Pascal

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Rafaela Speckhann

É escritora, mãe, esposa e mulher multicultural.

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