As mudanças na vida e a importância de ressignificar memórias
Algumas vezes, a nostalgia me pega, pois lembranças surgem de repente, e meu corpo, muitas vezes, sente. Sente como se estivesse de volta naquele momento da história. Domingo, é justamente o dia que costuma me trazer nostalgia.
Para nós, mulheres multiculturais, que muitas casas já experimentamos, sentir saudades é algo quase que diário. Por isso, gostaria de contar para vocês algo que aconteceu na minha casa atual no ano passado, o que me levou a refletir sobre as casas que já morei desde minha infância.
Tenho uma arquivo em meu laptop chamado ‘Memórias de infância’. Certo dia, o Espírito Santo me trouxe a memória algumas das minhas lembranças de infância. Ele me desafiou a colocá-las diante de Cristo. Assim, junto com Ele, fui processando-as e as ressignificando a luz de quem eu sou em Cristo.
Foi nesse momento que surgiu o texto que compartilho a seguir chamado, ‘Sopa de Letrinhas’:
Domingo, domingo é um dia um pouco esquisito. Embora para os líderes de igreja e suas famílias, toda a cidade é quieta, tudo é parado, todo mundo anda devagar na rua. Talvez, tenhamos igreja de manhã e à noite, talvez apenas uma vez no domingo.
Mas a tarde do domingo costuma ser parecida com uma fenda no universo, um já e um ainda não de uma nova semana, um flutuar sem compromisso, um espaço de tempo a talvez ser preenchido.
Na minha casa de infância nada acontecia. Enquanto alguns dormiam, outros assistiam tv. Sempre tinha um futebol passando. Outros liam, outros jogavam vídeo game, outros arrumavam as malas para o dia seguinte.
Apenas uma coisa quase sempre acontecia.
Sopa de legumes se comia.
Lembro bem daqueles domingos, todos à mesa com uma panela de pressão cheia de sopa de legumes e a vontade de comer que não aparecia. Às vezes, eu escapava comendo apenas pão. Outras vezes comia sem entusiasmo simplesmente para não desagradar a cozinheira, minha mãezinha.
Revisitando memórias
Recentemente algo extraordinário aconteceu na minha casa, não mais a minha casa da infância, mas na casa da infância de outros. Ouvi um pedido estranho:
‘Mamãe, você faz sopa de letrinhas?’
Sopa de letrinhas? Por que você iria querer isso? pensei eu, mas felizmente, as palavras que se seguiram foram:
‘É mesmo? Por que você pensou em sopa de letrinhas agora?’
‘Porque me lembra da escola que eu estudava antes de nos mudarmos para cá.’
Com essa resposta significativa, prontamente aceitei fazer a tal sopa de letrinhas, que nunca antes em minha vida havia pensado em fazer.
E para minha alegria e espanto, a sopa de legumes da minha infância, fez um sucesso entre minhas crianças.
Essa sopa de letrinhas me levou de volta à casa de meus pais, aos domingos de tarde, na fenda do universo, no já e no ainda não de uma nova semana e me fez querer voltar aquele tempo.
Voltar àquele momento, numa tarde de domingo na minha casa de infância, onde ser era o bastante e a espera do futuro, que hoje é o presente, era constante.
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