Qual impacto as brincadeiras infantis geram no cérebro infantil?
Vínculo afetivo é tudo aquilo que estabelece uma ligação afetiva ou moral entre duas ou mais pessoas.
Brincadeira é a ação de brincar, de entreter, de distrair.
Você já pensou sobre qual ligação tem com seu filho? Comece a lembrar quantas vezes você pronuncia o nome dele e quais dessas vezes está ligado a um elogio, um carinho ou a uma reclamação. Quantos minutos por semana a um tempo para boas gargalhadas? Qual livro vocês leram juntos? Que atividade fizeram juntos por puro prazer?
Em meio a correria da vida missionária, por vezes podemos deixar de lado a qualidade das relações. Com tantos afazeres, tendemos a realizar apenas coisas essenciais aos filhos como cozinhar para eles, auxiliar em sua higiene, passar suas roupas e verificar suas atividades escolares. Ações extremamente importantes, mas que precisam ser acompanhadas de momentos lúdicos.
O tempo de qualidade investido com seu filho criará e fortalecerá esse vínculo. Cada momento junto, uma explosão de sentimentos acontece no cérebro do seu filho e memórias estão sendo criadas. É preciso ser intencional e planejar ações lúdicas.
Cérebro – emoções e reações
Vamos descobrir como o nosso cérebro reage a determinadas situações e como as brincadeiras em família favorece a saúde mental do seu filho para o hoje e o futuro.
O ser humano é um conjunto de vários sistemas que em harmonia trabalham para o bom funcionamento do corpo e mente. O sistema nervoso é como uma grande vila cheia de ruas e avenidas interligadas entre si. Um desses quarteirões é responsável pelas questões ligadas às emoções e sentimentos, à modulação da memória e aprendizagem afetiva. Estamos falando do sistema límbico, que fica localizado bem no centro do nosso cérebro.
Como automóveis que circulam nas ruas para manutenção e suprimento da vila, os neurônios (que são células nervosas) passam informações para outros neurônios, transformando estímulos químicos e físicos em impulsos nervosos, denominadas sinapses. As sinapses são esses encontros de neurônios que passam mediadores químicos, que são chamados de neurotransmissores, como a Adrenalina, Serotonina e Dopamina. Esses neurotransmissores, cada um com sua função, exercem diversos papéis no organismo, como a promoção das sensações de estresse, prazer, felicidade.
O fantástico é que na mesma rua dessa grande cidade, a emoção e a memória são vizinhas. O sistema límbico interliga esses dois sentimentos. Fazendo que uma carga maior de emoção garanta um arquivamento de longo prazo na memória. As idas e vindas nessas ruas, (as sinapses), garante a mudanças do cenário da cidade. Esse fenômeno é denominado plasticidade cerebral.
A memória do seu filho não gravará o valor que você investiu em um jogo, mas nas lembranças de um momento agradável e feliz
Vamos imaginar um grande formigueiro que trabalha sem parar. As formiguinhas a todo instante estão passando de umas para as outras, pequenas porções de alegria, bem-estar, prazer. No entanto, em certo momento, o formigueiro é invadido por um vapor colorido, que anima tanto as operárias que elas trabalham mais rápido, e as porções que recebem uma das outras aumenta consideravelmente. Este evento é tão motivador que ganha uma pintura esplêndida que é fixada na parede central do formigueiro. Sempre que as formigas as observam, enche seus pequenos corações de afeto. E é esse afeto que serve de alimento para a vida delas.
É também o sistema límbico que coordena as glândulas endócrinas (sistema endócrino). Essas glândulas influenciam pensamentos, sentimentos e comportamentos, gerando emoções agradáveis e desagradáveis. Enquanto a comunicação do sistema nervoso é feita através de neurotransmissores, no sistema endócrino a comunicação é feita através de hormônios.
A Neurociência nos mostra que o nosso cérebro reage positivamente em ambientes carregados de afeto, toque, cumplicidade. O meio externo causa uma conexão interna gerando sensações de alegria, pertencimento, felicidade, prazer, que faz nascer uma memória de longa duração carregada de boas lembranças.
Muito mais que apenas o rosto alegre, o coração feliz previne transtornos emocionais. Em Provérbios 15:13 diz: “O coração alegre aformoseia o rosto; mas pela dor do coração o espírito se abate.”
Existem hormônios como as endorfinas e as beta-endorfina que são substâncias analgésicas que buscam diminuir as sensações desagradáveis – morais, emocionais e cognitivas. Essas substâncias mágicas são produzidas só quando gargalhamos. Quando mais sorrimos, mas produzimos endorfinas. Esse conjunto de hormônios gera uma estimulação elétrica e química que provoca em nós um sistema de recompensa de sensações agradáveis e de prazer. Ao mesmo tempo, nossa memória é ativada no instante que estamos nos sentindo bem.
Durante as brincadeiras, o sistema endócrino e nervoso liberam mais neurotransmissores causando uma sensação de alegria, pertencimento, bem-estar.
Brincadeiras e reações neurológicas
Vamos estimular os neurotransmissores e liberar hormônios que geram alegria, prazer, satisfação e ainda gerar vínculo cultural?
Listamos abaixo algumas brincadeiras tradicionais, que podem ser realizadas em qualquer campo missionário, exigindo pouco ou quase nenhum recurso.
Oxitocina
A oxitocina é conhecida como o hormônio do amor e o cérebro a produz durante o toque, o abraço. Quando a criança está com medo ou assustada, o que ela procura é o abraço quentinho dos pais.
Sugestões de brincadeiras:
- Telefone sem fio
- Cabana (e sua infinidade de brincadeiras)
- Leituras em família
- Trabalhos manuais (avião de papel, barco de papel, plantar, massinha de modelar)
Dopamina
Brincadeiras que tenham vencedores, como jogos de tabuleiro, libera a dopamina que é o neurotransmissor que produz a sensação de alegria por recompensa, bem-estar por ter alcançado uma meta.
Sugestões de brincadeiras:
- Stop, adedanha
- Jogo dos erros com objetos
- Corrida do algodão – algodão na colher para o pote
- Corrida de algodão – algodão e canudo
Serotonina
Para uma vida saudável e livre da depressão, o nível de serotonina deve estar em alta. Uma alimentação saudável e atividade física ajudará a equilibrar esse neurotransmissor. Momentos de atividade física juntos com a família ativará a produção dessa substância.
Sugestões de brincadeiras:
- Cabo de guerra
- Vôlei de toalha
- Tênis com bexiga
- Baile na sala
Memória Olfatória
A amígdala que é um dos componentes do sistema límbico, tem uma calda que a liga ao bulbo olfatório que é a sede central de elaboração das impressões olfativas transmitidas pelo nervo correspondente. Não se tem certeza se é nela que se armazena a memória, mas acredita-se que ela é a responsável pela aprendizagem emocional e está sim envolvida com a modulação da memória. Uma das suas partes também está diretamente ligada ao hipotálamo. Então, brincadeiras que sejam cercadas de cheiros garantirá uma memória de longa duração.
Sugestões de brincadeiras:
- Master Chef
- Jogo dos cheiros e sabores
- Brincar ao ar livre
Outras brincadeiras infantis:
- Jogo da velha
- O mestre mandou
- Pintura
- Fazer massinha de modelar
- Jogo tátil
- Piadas e advinhas
- Mímicas
- Forca
- Adivinhe o filme – desenho ou verbal
- Quem sou eu? Perguntas, mímicas ou sons
- Desenhar com post-it em 3 partes
- Esconde-esconde
- Brincadeiras de papel (folha) já foi considerado a maior invenção humana. Hoje custa pouco, mas você pode ter momentos agradáveis em família sem recorrer às telas.
Acrescente brincadeiras do campo onde estão. Mande mensagens aos avós e peça para contribuírem com esta lista também, acrescentando brincadeiras brasileiras regionais.
A memória do seu filho não gravará o valor que você investiu em um jogo, mas nas lembranças de um momento agradável e feliz.
O toque, a voz, o cheiro, o ambiente, o tempo investido em família com brincadeiras e boas gargalhadas irá construir e fortalecer o elo entre pais e filhos. Plante qualidade de tempo!
Gálatas 6.7 (…) porque tudo o que o homem semear, isso também ceifará.
Edcleide Monteiro
Equipe Philhos – Educação
@tesourodehistorias
BIBLIOGRAFIA
Algumas contribuições das neurociências para o estudo da relação entre o afeto e a cognição.
A neurociência e as emoções do ato de a prender : quem não sabe sorrir … – Google Livros.
Afetividade e aprendizagem: abordagem neuropsicopedagógica | Santana | Anais do Congresso Nacional Universidade, EAD e Software Livre (ufmg.br)
Contribuicoes_Neurociencia_Afetiva_Compreensao_Docente_Aprendizagem_Crianca.pdf (ufc.br)n203515.pdf (avm.edu.br)
Os afetos: psicanálise e neurociência | Psicanálise, Porto Alegre;5(1)2003. | bivipsil (bvsalud.org)
Sistema límbico – Anatomia Humana – InfoEscola
Sistema Límbico: o que é, função e neuroanatomia – Toda Matéria (todamateria.com.br)
Vista do Sistema límbico e as emoções (unifesp.br)