Maus hábitos ou simples peculiaridades?
Perguntei ao meu esposo qual o hábito que tenho que mais o irrita. Sua resposta foi:”Interromper.” Quantas vezes eu me pego interrompendo, quando ele está conversando com um dos nossos filhos? Faço isso sem pensar, creio que por crescer numa família grande, o interromper é parte da normalidade, é um ato de sobrevivência.
Falar ao mesmo tempo, parece ser algo quase que normal na cultura brasileira. Meu esposo sempre diz que quando há 6 brasileiros juntos numa conversa, há pelo menos 4 assuntos sendo discutidos simultaneamente.
Sei que não é um bom hábito, e gostaria de mudar isso. E você, quais são os hábitos e peculiaridades que você tem? Quais são as de seu cônjuge?
É muito fácil escolher conviver com pessoas, com interesses e personalidades semelhantes ao nosso. Mas na realidade, quando nos envolvemos num relacionamento amoroso, logo vemos que apesar de sentirmos uma atração pelo o outro, há um deslumbramento pela ideia de “os opostos se atraem”. As diferenças entre os casais interculturais muitas vezes mantêm o vínculo emocionante, adicionando tempero aos nossos relacionamentos e dando profundidade às nossas conversas. Como você tem usado essas diferenças, de hábitos e peculiaridades, como fonte de boa comunicação?
Pense nos hábitos e peculiaridades. Você as tem. Eu as tenho. Nós as temos. E, às vezes, eles levam nosso cônjuge à loucura (nem sempre no bom sentido).
Quero primeiro começar distinguindo peculiaridades de maus hábitos, ou preferências.
Eu consideraria uma peculiaridade algo como espremer o tubo de pasta de dente no meio, raspar ou lamber a tampinha do yogurt, ou não comer certos alimentos, tipo “abacate” (meu esposo detesta).
“o compartilhar mais profundo só pode ocorrer
quando não há medo de rejeição”
Maus hábitos, por outro lado, podem causar danos e comprometer sua saúde, relacionamentos ou carreira. Alguns dizem que vão além de “isso é estranho/irritante” se tornando “isso é inaceitável/perigoso/problemático”.
Muitas vezes, pessoas bem-intencionadas me perguntam como podem lidar com as peculiaridades e deficiências de seus cônjuges sem magoá-los. Aqui está minha opinião.
Se for uma peculiaridade:
- Vale mesmo a pena lutar por uma coisa pequena? Escolha suas batalhas. Algumas peculiaridades (como a do meu esposo e aversão ao abacate) seguem seu curso ou são meramente escolhas, e você não precisa ser excessivamente crítico. Quando procuramos as peculiaridades ou falhas nos outros, facilmente as encontramos, e a natureza de nossos relacionamentos começa a mudar como resultado de colocá-las sob o microscópio o tempo todo.
- Estar perto de quem amamos, nos traz liberdade. Algumas peculiaridades só aparecem (são visíveis) perto de pessoas que amamos e confiamos. Se ficamos criticando nossos cônjuges por interromper ou por usar um travesseiro da infância para abraçar ao dormir (eu!) isso pode deixar o outro sem liberdade de ser vulneráveis conosco e o relacionamento será prejudicado. No livro “Salvando seu casamento antes dele começar” (Saving Your Marriage Before It Starts) Les e Leslie Parrott explicam que “o compartilhar mais profundo só pode ocorrer quando não há medo de rejeição”. Em poucas palavras, isso é segurança emocional.
Se houver uma peculiaridade específica que você realmente não suporta, como por exemplo o espremer a pasta de dente pelo meio, você pode dizer algo assim:
“Querido, fica bem mais fácil se espremer o tubo da pasta de dente de baixo para cima – na minha opinião o tubo fica até mais bonitinho, e acho que até economiza. Eu sei que provavelmente parece bobo, mas será que você poderia, por favor, tentar expremer de baixo para cima no tubo? ”
Fazendo assim, você também está apresentando alternativas razoáveis. E mostrando ao cônjuge suas razões. Porém, esteja aberta para não haver mudança de comportamento, e isso não deve ser causa de brigas. Sempre se lembre de usar a fórmula:
- Ser claro – Não espere que seu cônjuge leia sua mente – ele é incapaz!
- Ser encorajador – Agradeça por qualquer esforço, mudança e sucessos anteriores.
- Ser positivo – Veja o lado bom das coisas. Positividade gera positividade em nossos relacionamentos.
Se for realmente um hábito “ruim”.
Talvez um de vocês ou ambos tenha criado o hábito de ir para a cama bem tarde. Você pode estar preocupado com a falta de qualidade de sono do seu cônjuge, e este tópico você enquadrar como preocupações genuína que você tem (porque você se importa). O importante é sempre separar a atitude e a pessoa. Se encararmos nosso cônjuge como o problema e tentarmos fazê-lo sentir-se culpado ou inadequado por seus maus hábitos, nossas preocupações serão descartadas imediatamente, não importa o quão legítimas sejam (por exemplo, “Você sempre vem para cama tarde. Você é tão irresponsável!”).
Lembre-se, devemos criar um ambiente seguro para o nosso cônjuge. Nosso cônjuge precisa saber que o amamos e o aceitamos como é, antes de ser receptivo a fazer mudanças. Se tivermos uma lista de reclamações sobre nosso cônjuge, ele começará a se perguntar se realmente o amamos e qual a motivação de ficar juntos. Isso torna-o mais resistente aos nossos comentários e pedidos.
Muitas vezes julgamos o outro e acusamos que não muda porque não tem força de vontade. Mas, força de vontade não é o suficiente para mudar um hábito. Eu pessoalmente estou num processo de mudança de hábito – e acredite, mudar um hábito leva tempo, intencionalidade, esforço, planejamento e muita paciência.
Quando esgotamos nossa força de vontade, estamos mais propensos a seguir o caminho fácil e automático. Seja qual for o hábito: dormir tarde, comer muito chocolate ou assistir compulsivamente aos nossos programas favoritos – todas são atitudes passivas que raramente nos deixam felizes ou realizados. Ao fazer isso dia após dia, formamos maus hábitos difíceis de quebrar. Mas se temos alguém que nos encoraja e nos ajuda a sair desse círculo vicioso, a mudança será mais rápida e duradoura.
Quanto as peculiaridades, precisamos aceitar essas diferenças no nosso cônjuge (elas fazem parte do pacote e todos nós temos peculiaridades) e reconhecer que há diferenças que não faz diferença!
Quando se trata de maus hábitos, somos chamados a edificar mutuamente, e podemos ajudar nosso cônjuge a se manter saudável e a fazer escolhas responsáveis. No entanto, temos que fazê-lo com amor, no contexto de um relacionamento seguro e aceitável, onde ele confie em nós e sabe que cuidamos e apreciamos quem ele é, o todo, com suas fraquezas e seus pontos fortes. Que cada um tenhamos a humildade de buscar ajuda dos céus, pois quando individualmente, cada um buscar uma transformação genuína, há transformação no relacional.
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