Momentos Espirituais – De Dentro para Fora

Um Chamado para um Coração Rendido a Deus

Chegamos ao fim da série “Momentos Espirituais”. É importante lembrar que nem todos nós passamos por todos esses momentos, mas é essencial reconhecê-los quando surgem.

Nesta última parte, abordarei os estágios que denominei de “Retorno ao Reino Exterior” e “Vida em União com Deus e com os Outros”.

Retorno ao Reino Interior

Após um período de luta, dor e desafios, onde nossa fé é testada em diversas frentes, especialmente no momento espiritual o qual denominamos “Muro” (*), iniciamos uma jornada de volta ao reino exterior. O “Muro” pode durar meses ou até mesmo anos; por isso, é crucial, como mencionamos anteriormente, evitar atalhos. Gradualmente, com o passar do tempo, nos curamos e somos “recalibrados” em nossa vida interior. Algumas partes de nosso ser jamais serão as mesmas, pois, enfrentamos perdas e desorientações profundas. No entanto, à medida que nos curamos e abraçamos a transformação, Deus nos chama a servir aos outros de novas e renovadas maneiras.

Entregamos nossa vida de forma mais profunda, cientes de que, aconteça o que acontecer, nos renderemos a Deus e aos Seus caminhos. Desta forma, neste convite para retornar ao reino externo, estamos agora mais enraizados em Deus, centrados Nele. Nossas mãos estão mais abertas — uma ilustração da postura interior de nosso coração. Antes, nossas mãos estavam fechadas, refletindo o desejo de que nossa própria vontade prevalecesse. Orávamos com convicção, sem deixar espaço para nos render aos caminhos de Deus.

O sofrimento é agora mais “aceito”. Uso “aceito” entre aspas porque, embora ainda seja doloroso, entendemos que Deus está conosco e se compadece de nossa dor.

Nossas motivações, principalmente, deixam de ser a busca pelo sucesso, reconhecimento ou aceitação dos outros. Em vez disso, desejamos viver amando a Deus de forma honesta e autêntica, reconhecendo nossas luzes e sombras. Além disso, aceitamos nossa fragilidade e, ao mesmo tempo, ficamos surpresos ao descobrir em nós mesmos mais compaixão, paciência e humildade.

No passado, tínhamos maior segurança sobre a direção de nossa vida. Agora, não temos tanta clareza, o que nos faz sentir mais dependentes e necessitados. Porém, paradoxalmente, isso nos torna mais realistas e conscientes de que não temos o controle. Todavia, mesmo diante da incerteza, sentimo-nos mais seguros, confiantes em Deus, com uma paz e calma que provêm da certeza de que, ou seja, apesar da falta de clareza, Deus está revelando nosso chamado.

3 Caracteristicas deste Momento Espiritual

1. Um Senso de Aceitação de Nossa Humanidade

Em primeiro lugar, nesta fase, há uma aceitação renovada de quem realmente somos.Contudo, Isso não significa que deixamos de crescer ou aprender, tampouco que já atingimos nosso objetivo. Pelo contrário, passamos a nos acolher com mais graça. Em outras palavras, o que antes nos frustrava em nossas fraquezas agora, nesse momento espiritual, é visto como parte do processo, e até conseguimos rir de nós mesmos, como se disséssemos: “Ah, você voltou”. Ainda assim, nos sentimos amados e aceitos pelo Senhor.

Sobretudo, estamos encantados com a humanidade e reconhecemos que a vida não é apenas sobre atingir nosso potencial, mas também sobre sermos vistos e usados, mesmo em nossas fraquezas.

2. Sentimento de Ser Amado e Liberdade para Amar

De maneiras novas e profundamente pessoais, percebemos que somos amados e temos liberdade para amar os outros, sem tanto ruído interior. Trata-se de um amor menos egoísta, menos transacional.

Nossas atitudes de liderança e o uso de nossa influência também se transformam. Nosso “ego” diminuiu. Lembro-me da descrição de Isaías 42:1-4

 “Eis o meu servo, a quem sustento, o meu escolhido, em quem tenho prazer. Porei nele o meu Espírito, e ele trará justiça às nações. Não gritará nem clamará, nem erguerá a voz nas ruas. Não quebrará o caniço rachado, e não apagará o pavio fumegante. Com fidelidade fará justiça; não mostrará fraqueza nem se deixará ferir, até que estabeleça a justiça sobre a terra. Em sua lei as ilhas porão sua esperança.”

Esse texto, que antes nos fazia sentir especiais e exclusivos, agora, nesse momento espiritual, é acolhido com humildade. Não precisamos mais levantar a voz para sermos reconhecidos; ao contrário, somos convidados a perseverar e servir aos outros a partir de uma realidade centrada em Deus e na dependência do Espírito Santo.

3. Compromisso em Fazer a Nossa Parte

Neste momento, sentimos nossa contribuição de forma mais equilibrada, reconhecendo nossas limitações e servindo por amor. Esse serviço não surge de uma necessidade própria de cuidar, mudar ou consertar a vida dos outros, nem de um sentimento messiânico de que somos os salvadores. Também não vem da falta de limites ou do desejo inconsciente de nos tornarmos mártires.

Geralmente, há uma sensação de calma, um cultivo da simplicidade nas diversas áreas de nossa vida interior e exterior. Com a certeza do amor de Deus, também reconhecemos nossa fragilidade e a necessidade de cultivar a dependência dEle dia após dia. A transição para a próxima etapa, “Vida em União com Deus e com os Outros”, é quase imperceptível externamente. Deus cresce e nós diminuímos.

Vida de União com Deus e com os Outros

Esta fase pode ser resumida por uma frase do livro “Critical Journey”, que é minha favorita para descrever este momento: “Nós nos perdemos na equação com Deus e, ao mesmo tempo, nos encontramos verdadeiramente”.

Estamos em paz conosco, conscientes de que somos a pessoa que Deus nos criou para ser. A obediência a Deus surge de maneira natural, tanto em situações simples quanto desafiadoras.

As lutas, mágoas e dificuldades se transformaram em sabedoria. Mesmo quando sofremos, encontramos simultaneamente graça e conforto em Deus. Ao olharmos para trás, vemos a fidelidade dEle em muitos momentos de nossa vida.

Vivenciamos uma alegria que não depende das circunstâncias e percebemos a vida como uma dádiva. Enxergamos Deus em tudo — nas situações, na natureza, nas pessoas e nos pequenos detalhes do dia a dia.

Nesse momento espiritual, experimentamos um sagrado desapego e continuamos a buscar a simplicidade. O que antes nos estressava já não tem o mesmo peso; pelo contrário, sentimos uma liberdade ao aceitar o que temos e ao confiar plenamente em Deus. Podemos dizer, como o salmista: “O Senhor é o meu pastor, nada me falta”. Essas palavras, que tantas vezes repetimos, agora ressoam com uma profundidade impressionante, mesmo em meio a dificuldades.

Esse é o “abandono” ou entrega a Deus, aconteça o que acontecer. E, ao mesmo tempo, é a capacidade sobrenatural de viver o presente com gratidão, confiando nosso futuro a Ele.

Somos capazes de nos doar com vulnerabilidade, pois não precisamos mais nos proteger como antes. Nossos momentos de devoção a Deus se transformam em uma conversa contínua ou em uma sensação de calma que reconhece Sua presença constante.

*Muro (você pode ler melhor a definição no podcast Momentos Espirituais “Muro“. Leia também: Momentos Espirituais – Ordenando o meu interior. Momentos Espirituias – Rumo ao Crescimento. Momentos Espirituais – Caminho à Transformação

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Doralicia Cajina Miranda

Dora Alicia é casada com Randy e mãe de Abigail e Sophia. Ela é de Costa Rica, viveu durante 9 anos em Venezuela com sua família e atualmente mora na Espanha.
Estudou Assistência Social e atua como voluntária em algumas organizações sem fins lucrativos.
Tem uma formação de "Diretora Espiritual" e desfruta acompanhando pessoas em tempos de transições ou discernimento.
Uma das coisas que mais ama fazer é trabalhar com mulheres usando temas de formação espiritual e escutar a voz de Deus. Ama aprender de outras culturas, passear na natureza e de um bom café com as amigas.

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