Como o senso de pertencer e ser está relacionado ao ministério global?
Pertencer. Todas nós queremos pertencer a algo, a alguém, a um grupo. Para nós mulheres multiculturais, pertencer tem ainda um desafio extra. Quando saímos de nossa própria cultura não sabemos o que significa ‘pertencer’ no lugar em que fomos levadas por Deus a servir. O que significa ser esposa, ser mãe, ser mulher, ser filha, ser solteira, ser profissional nesse novo lugar?
A quantas coisas ou pessoas podemos pertencer ao mesmo tempo e sem perder de vista quem somos ou quem fomos chamadas para ser em Jesus?
Desde sempre tenho o desejo de pertencer. Lembro de quando ainda era criança eu tinha um grande desejo de pertencer ao time de futsal da minha escola. Na adolescência queria pertencer ao grupo dos ‘legais’ da escola. Na faculdade pertencia ao grupo de ABU (Aliança Bíblica Universitária). Como mãe, quero pertencer às mães descoladas, como mulher quero pertencer ao grupo das que não envelhecem… e assim por diante!
Sou brasileira filha de pais casados, irmã do meio, formada em pedagogia, esposa de um homem inglês e mãe de três crianças e sou seguidora de Jesus. Só nesse parágrafo posso me identificar como alguém pertencente a pelo menos sete grupos: pertenço ao grupo com nacionalidade brasileira, pertenço ao grupo de filhos de pais casados, ao grupo dos filhos do meio, ao grupo dos pedagogos, ao grupo das mulheres em casamentos multiculturais, ao grupo de mães etc. UFA!
Porém, nenhum deles me diz quem eu realmente sou. Quem nós somos é muito mais complexo do que os grupos dos quais fazemos parte, e ao mesmo tempo, muito mais simples.
Permanecer na Videira
Ao ler João 15:1-16, percebo o quanto minha busca por identidade tem girado em torno de compreender o que significa permanecer ou pertencer à Cristo. E como as minhas dúvidas diárias, lutas e incertezas têm a ver com decidir a cada momento permanecer com Cristo e não com algo do mundo ao meu redor.
Permanecer na Videira significa permanecer nas palavras de Jesus. Em 16 versículos, a ideia de permanecer aparece 12 vezes. Isso deve significar algo importante, vocês não acham?
A imagem da videira, do agricultor e dos ramos que Jesus usa nessa passagem ilustra bem o que é pertencer a algo. Jesus é a videira verdadeira e não, qualquer videira. Deus Pai é o agricultor e nós somos os ramos (v.1 e 5).
Apenas os ramos que estão presos à videira podem dar fruto. Parece óbvio quando pensamos numa planta. Porém quando pensamos em nós mesmos, o que significa permanecer na videira e dar fruto?
O versículo 6 é um pouco assustador, não é? As consequências de não permanecer em Cristo são isolamento e morte. Já no versículo 7 há um encorajamento: a consequência de permanecer em Cristo e de suas palavras permanecerem em nós é que: pediremos o que quisermos e seremos atendidas.
Há muitos aspectos nessa passagem para comentarmos, mas nesse pequeno texto vou ficar com apenas um. É preciso reconhecer que Jesus é a videira verdadeira. Se João colocou a palavra ‘verdadeira’ nesse versículo é porque existem videiras falsas. Nós conhecemos várias.
Confissões
Em meus 39 anos já tentei me firmar na videira da minha profissão (pedagoga), da minha família, dos meus filhos, da igreja, do meu marido, da minha aparência e da produção de alguma coisa. Todas conhecemos essas videiras, e há muitas outras. Sempre que uma dessas videiras se torna mais importante ou atraente para eu permanecer, eu estou escolhendo uma videira falsa.
Consigo pensar em várias situações em que me apeguei a essas falsas videiras, especialmente a da família. Mas, não devemos nos enganar, a videira da família é muito boa, mas se for dela que tiramos nossa razão de viver, não estamos no caminho certo.
O mesmo acontece conosco mulheres multiculturais, talvez a maioria de nós se tornou multicultural devido ao casamento ou ao chamado para servir em outra cultura. A tentação para nós é nos apegarmos ao chamado ao invés de ao Deus que nos chamou.
Quando pertencemos ao nosso chamado, pensamos que somos insubstituíveis no lugar que estamos. Ou talvez, nos ressentimos de nossos maridos porque eles, em geral, têm uma função clara no campo transcultural que estamos servindo e nós, como esposas e mães, muitas vezes não temos. Particularmente, em algumas mudanças que fizemos como família, eu me senti como a ‘expectadora do chamado’, fazendo a transição funcionar para a família, mas sem me sentir pertencente ao ‘chamado’ de Deus para nós.
Voltando a João
Mas essa passagem em João sempre vem para me lembrar e me encorajar de que a única videira verdadeira em que podemos nos orgulhar é Cristo. Permanecendo Nele damos fruto, permanecendo em suas palavras glorificamos a Deus, e temos nossas orações respondidas porque oramos conforme a Sua vontade.
Permanecer em Cristo tem a ver com as decisões diárias que tomamos, sejam grandes ou pequenas. Tem a ver com buscar com paciência os rumos que Deus tem para cada membro da família em uma transição. Tem a ver com renunciar a si mesma para ajudar seus filhos a se adaptarem a uma nova realidade. Tem a ver com apoiar seu marido em sua nova função que faz com que ele fique mais horas fora de casa até ele conseguir dominar suas novas responsabilidades. Tem a ver com as decisões diárias que as mulheres solteiras enfrentam por serem solteiras. E acima de tudo tem a ver com passar tempo com Jesus, pacientemente buscando entender seu chamado na fase de vida que você se encontra.
Permanecer em Cristo tem a ver com tomar decisões difíceis que vão nos aproximar mais do plano de Deus para cada uma de nós. Ele quer é que permaneçamos Nele, “pois é Deus quem dá o sustento aos que ele ama, mesmo quando estão dormindo” Salmo 127:2b.
Identidade permanente
Essa passagem está falando sobre mim (ramo) e meu relacionamento com Jesus (a videira) e com o Pai (o agricultor). Jesus é muito pessoal em todo esse texto encorajando e nos ensinando o que significa permanecer Nele.O ramo da videira que confia em Jesus e obedece aos seus mandamentos, permanece com Ele e ganha a identidade permanente de pertencer à videira.
Eu não mais pertenço ao meu trabalho, à minha agência transcultural, ao meu cargo na igreja ou ao meu status familiar. Não preciso mais acreditar nos rótulos que as pessoas colocam em mim: ‘dona de casa, não é brasileira mais, não tem filhos, é intensa, é multicultural, é despolitizada ou desinformada, é esposa de fulano’, e existem muitos outros rótulos que acabam nos marcando profundamente. Não, nada disso serve para me dar identidade.
O que me dá identidade é permanecer em Cristo, é ser chamada de amiga Dele porque o obedeço amando a outros. Permanecer em Cristo traz alegria completa. Alegria profunda que vai além das dificuldades do momento.
E para você, querida mulher multicultural, como está sendo permanecer em Cristo essa semana?
Carolina Rout
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