Celebrando 2 anos de apoio e cuidado à mulher em ministério transcultural
O fruto do confessar de uma mulher multicultural
Havia tanto para compartilhar, confessar… já há tantos anos fora do meu país, tantas experiências para contar. Como poderia eu expressar?
Me lembro de quando tudo começou: uma jovem brasileira, partindo pela primeira vez para uma terra muito distante. Juntamente com o marido, levando dois bebês, ingressando em uma equipe multicultural para servir em ministério transcultural; com o desejo genuíno e ardente de atender a um chamado de Deus, mas tão inocente quanto aos desafios a enfrentar.
Foram muitos aprendizados, tantas situações inimagináveis, sofrimentos, perdas, frustrações, aventuras, alegrias, vitórias… Há…quanta história inesperada.
Os anos se passaram, o aprendizado e experiências foram se expandindo, mas a desconexão entre as realidades da vida transcultural e da vida imersa em minha cultura de origem só aumentava. Quanto mais eu crescia no envolvimento e no frutificar do ministério, maior a distância dos familiares, amigos e igreja brasileira. Havia uma mistura tão grande de sentimentos, e em meio a alegria de servir, a tristeza que não se calava pela distância. Uma distância não somente física, mas cultural e de cosmovisão, algo complicado para uma simples explicação.
A solidão como companheira, e o assumir de uma identidade peregrina, não se conciliavam com o desejo de pertencer, de me fazer compreendida, de tentar explicar, de reconectar como o meu povo, com a minha língua, com a minha nação.
Uma caminhada difícil, mas muito linda, com tantos privilégios, mas também desafios -uma história irretornável… Afinal, algo que não fazia parte do meu rol de sentimentos era o arrependimento por servir, por atender ao chamado. Havia paz, e uma decisão firmada em não olhar para trás.
Mas como poderia eu partilhar tudo isso com aqueles que penso que se importariam? Como explicar tantos anos nesta vivência em tão poucos minutos de um pequeno testemunho no altar? Como é possível explicar quando os dias são contados, limitados e corridos quando visitamos o nosso país?
Nasce uma ideia, um desejo, uma urgência em expressar, confessar, abençoar, prevenir, ensinar, conectar:
– Não vou mais esperar somente os dias que posso lá estar, vou gravar, vou publicar!
Assim, em 2018, surgem os vídeos de confissões de uma mãe missionária, que até os dias atuais estão lá no YouTube CMM. E em meio a este confessar de experiências e histórias, mulheres mundo afora começaram a se identificar. E ainda que todas fisicamente distantes umas das outras, parecíamos tão próximas, uma “tribo” que começa a se movimentar. E mesmo sem notar, formávamos uma rede para nos apoiar.
Em dias de pandemia, um estalo, algo mais começa a arder: o desejo de encontrar.
Um dia, uma oportunidade, um horário marcado para juntas estar; orar, aprender e conectar.
Assim em outubro de 2020 acontece o primeiro Encontro CMM. Online, com a participação de mais de 200 mulheres multiculturais servindo ao Senhor em mais de 30 países. Foi lindo, foi emocionante. Eu nem podia acreditar!
Os planos de Deus, sempre maiores do que os meus, não me permitiram alcançar os objetivos que eu havia traçado na forma que eu esperava. Porém, a minha busca se tornou resposta para tantas mulheres, tantas famílias, em tantos lugares.
A partir daquele dia, daquele evento marcado pelo céu, o CMM se tornou um movimento de apoio à mulher que serve em campo transcultural e suas famílias. Um espaço seguro e de realidades similares. Um lugar de trocas de experiências, aprendizado e cuidado. Um ministério dedicado a temáticas essenciais e relevantes para capacitação da mulher em ministério global.
Deus é fiel e cheio de surpresas. Não houve por minha parte um planejar, mas os sonhos dele estavam a desabrochar. De uma urgência por estar mais próxima daqueles que amo e de minha cultura, Deus me levou por mais um caminho inesperado. Me mostrando mulheres que passavam pelos mesmos desafios, e que como eu, tinham o desejo de compreensão e conexão.
Cada vez que leio um testemunho, ouço sobre os frutos e me deparo com o crescimento deste movimento de mulheres servindo a Jesus em tantos países, cada vez que percebo como o CMM vem impactando o ministério transcultural mundo afora para a Glória de Deus, fico emocionada, sem palavras, e transbordante de gratidão. É Jesus purinho! Visto que conheço minhas limitações, sei que não tem a ver com as minhas capacitações e planos enquanto líder deste ministério.
Deus em sua graça e misericórdia, tem nos dado o privilégio e a oportunidade de servir como CMM; tem nos permitido participar do cuidado de mulheres e famílias em processo de esgotamento, algumas que já não sabiam como prosseguir, também aquelas que se sentiam despreparadas, muitas que negligenciavam o cuidado próprio e o cuidado de suas famílias em nome de um ministério, e tantas com preciosos conteúdos para trocar, compartilhar e ensinar.
O CMM é um ministério de apoio, é um agente de transformação. O CMM é um plano do criador gerado por meio de nós para equipar suas filhas em ministério global. E assim, por meio de diversas ferramentas e plataformas, vem atendendo ao chamado de servir e cuidar, prosseguindo por meio da fé, potencializado pelo voluntariado de nossas colaboradoras.
Somos muitas, somos diversas, mas também únicas e especiais aos olhos do Pai. Ele se importa, Ele nos amou primeiro, Ele responde as nossas necessidades e orações. Unidas em um mesmo propósito: expandir o reino de Deus até os confins da Terra. Seguimos a jornada, em meio ao confessar de tantas mulheres multiculturais, servindo à um só Deus, um só Senhor que nos capacita.
Obrigada Jesus, obrigada equipe CMM, obrigada à cada mulher multicultural. Por meio do CMM sou abençoada e com vocês tenho aprendido dia a dia, é um grande privilégio servir como peregrinas nesta caminhada.
Valeska Petrelli / Gestora CMM