Só, mas acompanhada!

Como vencer o desafio da solidão em um contexto transcultural

O desafio da mulher solteira, sozinha, viúva ou divorciada é sempre diverso, cheio de nuances do olhar da cultura e também do seu próprio olhar acerca de ser ou estar sozinha. Quando me refiro a ser ou estar sozinha está especificamente relacionado a não estar num relacionamento conjugal compartilhando a vida com um marido, como é o desejo de muitas. A sociedade pressiona aquelas que são ou estão sozinhas. Estar em grupos com famílias, casais, crianças nem sempre é confortável para algumas mulheres. Há sempre um olhar interrogativo, um olhar que gera desconforto e sentimento de inadequação. 

Acompanhando muitas mulheres com este status civil pude perceber quão angustiante é para muitas sentirem-se sozinhas, o quanto se sentem inadequadas ou com uma falta. Não é incomum, buscarem casamento e depois se defrontam com frustrações por não ser aquilo tudo que imaginavam ser um casamento.

Como profissional da área do cuidado tenho me defrontado com o compartilhar destas mulheres, tanto daquelas que lidam com o contexto da igreja brasileira, quanto daquelas que estão em campo transcultural. As dificuldades maiores para estas estão relacionadas a lidarem com a solidão, com não ter alguém para compartilhar seus sentimentos, medos, dores e anseios. A distância que vai se estabelecendo com os relacionamentos brasileiros e a igreja de envio devido a diferença do fuso horário colabora para o sentir-se sozinha. 

O choque cultural, diferenças nos comportamentos e formas de lidar com a emoção da nova cultura também interferem grandemente no sentimento de solidão. Importante para todas é construir um espaço de partilha, de confiança e segurança através de mentoria, acompanhamento psicológico ou um simples andar junto com alguém que tem experiência transcultural. Que nestes encontros possamos ser transparentes, “pensar em voz alta” sem críticas ou julgamentos. Que possamos construir um caminho de parceria, de suporte e juntas buscarmos as promessas de Deus que nos trazem esperança, firmam nossos pés e nos dão a segurança de que não estamos sós.

Para mim, viúva há muitos anos, a construção da segurança, do estar bem comigo mesma, ficar tranquila sozinha em casa foi um processo que Deus foi me ensinando a me apropriar das Suas promessas, não apenas no conceito, mas na vivência deles. Os primeiros textos que recebi de muitas pessoas logo após o falecimento do meu marido faziam referência de Deus como marido das viúvas, escrito em Isaías 54:4-5

Não tenha medo; você não sofrerá vergonha. Não tema o constrangimento; você não será humilhada. Você esquecerá a vergonha de sua juventude e não se lembrará mais da humilhação de sua viuvez” e Oséias 2:19-20 “Eu me casarei com você para sempre, e lhe mostrarei retidão e justiça, amor e compaixão. Serei fiel a você e a tornarei minha, e você conhecerá a mim, o Senhor”.

Me apropriar destes textos com a devida contextualização trouxe para mim uma mudança interna, emocional que foi fundamental na minha caminhada de estar só. 

Creio que este princípio do Deus protetor e cuidador das viúvas também se aplica às solteiras e divorciadas. Outros textos que me trouxeram segurança e sempre os retomo estão em Salmos 32:8 O Senhor diz: Eu o guiarei pelo melhor caminho para sua vida, lhe darei conselhos e cuidarei de você” e 37:5 “Entregue seu caminho ao Senhor; confie nele, e ele o ajudará”. E para os medos e incertezas em relação a velhice Ele me diz em Isaías 46:4 Serei o seu Deus por toda a sua vida, até que seus cabelos fiquem brancos. Eu os criei e cuidarei de vocês, eu os carregarei e os salvarei”.  

Creio que nós, as sozinhas, precisamos nos posicionar emocionalmente na certeza de Suas promessas especificamente para nós. Minha sugestão é de que você procure as promessas que fazem sentido para o teu contexto e momento de vida e se aproprie delas integralmente. Este é o paradoxo do evangelho: estar “sozinha”, mas acompanhada por um Deus que afirma que nunca vai nos abandonar e que está comigo sempre. Deus tem um cuidado individual conosco e precisamos reconhecer e “tomar posse” do que Ele nos diz. E a Palavra se torna vida em nossos corações!

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Lea Marcondes

Psicóloga, especialista em mudança transcultural. Mentora e conselheira CMM

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