Mundanças de rumo
Hoje (junho, 2022), sozinha, sentada no aeroporto de Londres esperando o próximo vôo pra chegar em casa, observo o movimento das pessoas chegando e saindo. Verdadeira diversidade de biotipos, línguas, vestimentas, comidas, idades, tattoos, sorrisos e expressões, modos de andar.
Culturas que se apresentam nos seus gestos e cores, nas bagagens, bolsas e sacolas que levam. Corpos que contam suas histórias. Que registros estão impressos atrás dos olhares? Que trajetos fazem? Para casa? De férias? A trabalho? Não importa! São corações vivendo amores ou dissabores na esperança de encontros.
Lojas que vendem falsas necessidades. Verdadeiras explosões de cores e formas esperando se tornar um presente. Diversidade criativa, multiforme, cada um revelando suas origens. Eles vão e voltam, entram e saem e a vida continua…
Fico a pensar nas suas histórias, dores, lutas, desejos, esperanças e frustrações. Marcas e registros que vêm carregados de significados. Memórias de solidão, de sentimento de não pertencer, de ser diferente por morar em outra cultura.
Mulheres sofridas
E a vida também continuou para duas viúvas que viveram muitos séculos atrás. Viveram em tempos distantes, sofreram a perda de seus maridos, ficaram sozinhas sem perspectivas de um futuro, sem esperanças. Sozinhas … vivendo o luto e todo o peso da solidão, da cobrança social, peso da sobrevivência. Não sabemos há quanto tempo elas estavam viúvas e a vida pesando sobre seus ombros.
Noemi se torna amarga, sem esperança, estrangeira naquela terra, decide voltar para a sua terra natal, sem paradas em aeroportos, sem aviões, sem malas, nem presentes, e a outra decidiu ir junto. Rute decide acompanhá-la, mesmo Noemi não tendo nada para oferecer, nem um futuro marido. Rute reconhece a fidelidade e a devoção da sogra ao seu Deus e decide assumir também este compromisso de fidelidade e devoção a um Deus que ela aprende a amar.
Saíram levando apenas suas vidas, quem sabe uma sacola com alguns pertences e um fio de esperança de encontrar acolhimento com sua gente. Noemi vivendo o choque reverso ao encontrar a amigas que questionaram sua vida e Rute vivendo como estrangeira, o encontro com o desconhecido, em outra terra, outra cultura, costumes, outro Deus. Noemi reviveu o drama da sua dor e frustração, das memórias do tempo vivido ali que não existe mais.
Foi confrontada com a dor da saudade dos que já se foram, a dor da solidão, do luto, das perdas sofridas, a dor da impossibilidade de refazer a vida. Rute enfrentou o trabalho em campos desconhecidos, sendo tratada como estrangeira. Recolheu sementes, foi acolhida, foi vista e cuidada. Seus dias começaram a abrir um raio de esperança.
Muitas vezes, nós, mulheres sozinhas em campos estrangeiros, nos deparamos com perguntas sem respostas, com sentimentos de frustração por não entender os acontecimentos sem as soluções pedidas por tanto tempo. Vemos a realidade imediata e ela não nos agrada, ela turva o olhar para o sentido da vida e para o que me propus diante de Deus. Ele tem uma visão ampla, do aqui e agora e do amanhã e depois do amanhã. Assim também foi com Noemi e Rute. A vida perdeu o sentido.
Esperança
Deus teceu os caminhos e preparou restauração, nova esperança, novo sentido para a vida delas.O resgatador surgiu e trouxe uma nova possibilidade: ser incluída, passar a pertencer, formar família, gerar filhos. Ambas renovaram suas forças, suas esperanças. Deus cuidou de cada detalhe e a história dessas mulheres passou a fazer parte da nossa história. Do fruto do ventre de Rute, ventre da estrangeira que foi recebida, nasceu o ramo da casa de Davi e a tornou incluída na genealogia daquele que veio para nos receber e nos incluir na Sua família, Jesus, o leão da tribo de Judá.
Através dele, nós mulheres, sozinhas ou não, podemos experimentar com segurança as viagens que os “aeroportos da vida” nos oferecem, estar no meio de estrangeiros sabendo que estou incluída na sua grande família e protegida por Ele. Rute e Noemi nos ensinam a olhar para a dor e sofrimento, para as incertezas da vida com esperança pela possibilidade de restauração plena da nossa história de vida.
E a vida continua…