Sair da sua zona de conforto traz vários privilégios, mas consigo traz também muitos desafios. Eu saí do meu ‘lar’ ainda nova, me aventurei a deixar minha cidade interiorana em Goiás e ir morar longe – destino Sumaré, interior de SP. Fui trabalhar tempo integral em um acampamento, fazendo aquilo que amava. Com 21 anos de idade, vivenciando minha própria liberdade. Mas com ela, tinha minhas responsabilidades. Hoje, fazendo uma retrospectiva, vejo a cuidadosa mão do meu Deus, me treinando e me preparando. A Partir de Sumaré, cada uma das minhas outras decisões foram me levando a cada vez para mais longe. Longe de casa. Longe da família. Longe dos amigos. Longe do que me era familiar. Me deparei com o estranho, com o desigual, incomum. Estava não somente em outro país, mas em outro continente, outra língua, outra cultura.
Primeiramente, foram quase 5 anos na África, agora já são mais de 17 anos na Inglaterra. Continuo distante da família, meus filhos estão longe dos avós, tios primos…mas devo admitir que no decorrer de várias mudanças, Deus foi revelando cada passo. Proporcionando novos amigos. Ele foi providenciando uma outra ‘família’. E me deu um novo ‘lar’. E nesse lar , sou privilegiada de ser mãe. Poderia falar aqui de todas as coisas boas que a maternidade traz, mas quero ser um pouco mais realista e confessar os tantos desafios. Desafios estes que se exacerbam quando não temos a família por perto. Ter filhos longe da família, é desafiador. Nunca havia imaginado quão doloroso seria. Não visitar avós, tios ou primos no fim de semana traz uma perda incalculável. Perder as festinhas da família, traz aperto no peito. Não poder sair com o marido para um fim de semana sem filhos, gera um certo distanciamento no relacionamento. Natal? Páscoa? Casamentos? Batizados? Formaturas? Funeral? Todos esses eventos com família, não vão fazer parte da memória de meus filhos. Apesar das perdas, tive que aprender alguns mecanismos para que eu pudesse ter uma vida menos dolorosa.
Primeiro tive que aprender a ser grata por tudo. E o fazê-lo de forma Alegre – Fil 4:4. Foram inúmeras vezes que tive que me prostrar diante de Deus e dizer: Obrigada Senhor por duas crianças perfeitas, inteligentes e saudáveis. Obrigada pelas oportunidades que eles têm de aprender outra cultura, língua e privilégio de ter uma experiência cross-cultural do mundo. Obrigada que tenho a oportunidade de cuidar de meus filhos em tempo integral, posso escolher o que eles comem e fui a primeira a ouvir as primeiras palavras e ver os primeiros passinhos. Obrigada por ter uma personalidade que faz amigos facilmente, tenho o dom de hospitalidade – isso permite que tenha a casa sempre cheia.
Outra coisa que tive que aprender foi que com casa sempre cheia, eu aprendi a ser oportunista, usar minha criatividade :-). Quando os filhos ainda eram pequenos, oferecia minha cozinha para os jovens amigos usarem para jantares. Ou usar sua sala para uma noite de filme e pipoca? Claro, que a oferta era sempre nos horários que as crianças estavam perto de ir pra cama ou às vezes até dormindo – enquanto isso – eu tinha quem cuidasse dos nosso filhos e assim, meu esposo e eu, poderia sair para o cinema ou jantar fora. Com essas pequenas adaptações na minha vida, sem eu imaginar, estava também dando o privilégio aos meus filhos de ‘adotarem’ outros ‘tios e tias’, ‘primos’ e ‘avós’.
Essas adaptações não sanaram a saudade que ainda tenho da família mas me ajudou a lidar com aquela solidão e necessidade imediata. Me ensinou a ver a situação de uma maneira mais espiritual. Dentro de uma família temos privilégios e responsabilidades, e na minha circunstância eu tive optar por aprender a viver contente em toda e qualquer situação Fil 4:11-13.
Ter filhos longe da família não é uma tarefa fácil. Mas ajuda muito saber que Deus tem um plano e propósito em todas as coisas. Isto traz paz, descanso e certeza de que um dia, pela graça dEle, estaremos todos juntos.
E hoje com filhos adolescentes, os desafios e a saudade da família continuam. Nossa circunstâncias mudaram, minha sogra mora conosco. Isto é assunto para um outro artigo :-). Mas minha decisão de ser oportunista e buscar ser grata ainda me motiva. Amanhã, os adolescentes da igreja vem jantar aqui – vou deixar tudo preparado, e sair pra jantar com meu esposo! Assim deixo eles tendo o tempo deles juntos enquanto desfruto tempo como casal.
Assim vou aproveitando os privilégios de viver fora da minha zona de conforto, encarando cada desafio com a presença e força dada pelo meu Senhor e Salvador. O que traz gratidão ao seu coração hoje? Como você pode usar as circunstâncias que tem ao seu redor para melhorar seu tempo como casal?
Fica aqui meu desafio!