Você ainda teria vindo, mulher?

O preço incalculável da renúncia, incomparável ao privilégio do chamado

Você ainda teria vindo, mulher?

Você ainda teria seguido o chamado do seu Senhor, se tivesse consciência de tudo o que hoje sabe?

Você ainda teria deixado a sua nação e a sua parentela, para vir para os confins do mundo, espalhar amor e sementes de boas novas?

Você teria obedecido ao mandamento de ser uma benção, mesmo sabendo que nem sempre se sentiria tão abençoada?

Você teria se despedido dos seus, para depois aprender que, às vezes, a saudade iria bater como martelo no peito? Que o coração doeria ainda mais ao ver os seus próprios filhos chorando de saudades dos primos, dos tios, e dos avós?

Que haveria dias em que você se colocaria de joelhos, implorando a Deus o cumprimento da promessa de envio: “onde estão os meus cem vezes mais, Senhor?”

Você ainda teria vindo, se soubesse que a palavra “lar” perderia o antigo sentido, e teria que ser ressignificada, enquanto você tentava se organizar entre malas e caixas, em uma casa com uma distribuição de cômodos um tanto quanto exótica?

Você teria partido, se soubesse que ficaria perdida entre culturas,

tentando se adaptar à nova, enquanto percebia que, aos poucos, não se encaixava mais nos costumes da sua terra natal?

Que você tentaria inúmeras vezes explicar aos seus familiares os diferentes aromas e cores da sua nova vizinhança, só para perceber que, embora eles se esforçassem para compreender,

simplesmente não conseguiam?

Que você também precisaria se justificar aos seus amigos locais, até mesmo mostrando-lhes fotos e vídeos antigos, ou preparando a eles as suas comidas tradicionais, apenas para se frustrar em ver que eles nem sempre apreciariam os seus sabores e jeitos nativos?

Você ainda consideraria a sua vocação válida e digna de ser obedecida, se soubesse que tão poucos realmente dariam ouvidos à mensagem que você carrega?

Que você estaria plantando sementes de árvores majestosas, mas cujo frutos você provavelmente não viria a colher?

Que você teria que se contentar com os poucos vislumbres da graça que superabunda, apesar do reino das trevas, e que teria que aprender a considerar um enorme privilégio a oportunidade de poder ajudar o celeste pastor a resgatar aquela única ovelha perdida, a qual hoje você alegremente chama de irmã?


Mulher multicultural, hoje eu oro por você.

E, por conhecer o fiel amor do nosso Pai, creio verdadeiramente que você ainda virá a encontrar razões para revisitar a sua história e não se arrepender de ter ouvido a voz do seu Mestre. 

Creio que, mesmo que as lágrimas venham a cair, você se consiga se alegrar por ter obedecido e vindo, e que apesar de todas as tribulações, você possa ver a mão do Pai redimir todas as vírgulas e pontos de interrogação da história que ele escreve através da sua vida.

Ah, mulher. Eu sei que a estrada do Caminho é repleta de buracos e tropeços. Hoje eu rogo a Deus que o seu coração possa estar sempre disposto a ir aonde o Senhor lhe chamar, e que o Espírito esteja constantemente preparando os seus pés, de forma que eles continuem calçados com a prontidão do evangelho da paz.

Tenha bom ânimo, mulher, pois nesse mundo multicultural, você terá aflições, mas lembre-se sempre que o Seu Senhor já é vencedor!

Quão formosos são, sobre os montes, os pés do que anuncia as boas novas, que faz ouvir a paz, do que anuncia o bem, que faz ouvir a salvação, do que diz a Sião: O teu Deus reina! Isaías 53.7


Rafaela Speckhann é escritora, mãe, esposa e mulher multicultural. Autora do livro Sagrado Sarau – Prece, Palavra e Poesia

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Rafaela Speckhann

É escritora, mãe, esposa e mulher multicultural.

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