A relação da comida com o senso de pertencimento
Quem ainda não foi transportado ao passado ao sentir o cheirinho de uma comida, ou ao provar alguma gostosura que o fez lembrar do bolinho da mamãe? Isso é possível graças à memória gustativa. A comida não é apenas alimento para o corpo, ela também tem relação com nossa memória, identidade e afeto. E tudo isso está bem relacionado ao universo familiar. Marcel Proust, escritor francês, diz que o olfato e o paladar têm o poder de nos transladar ao passado. Na Campanha Comida é Patrimônio, Juliana Dias e Mónica Chiffoleau fazem referência aquela parte do filme de animação que eu amo, Ratatouille, quando o chefe gastronômico Anton Ego prova um ensopado de legumes e é transportado à sua infância. Ele lembra de sua mãe preparando um ensopado semelhante. E neste momento, sua percepção de gastronomia muda completamente e declara que “ qualquer um pode cozinhar”.
Nossos filhos cresceram longe do nosso país de origem, por consequência tiveram pouco contato com nossa cultura. No entanto, procuramos proporcionar-lhes um ambiente onde possam conhecer a história, folclore, músicas e comidas típicas do nosso país. Penso que tudo isso faz parte da formação da identidade deles. Eu particularmente amo cozinhar, ainda que eu não me considere boa cozinheira. No entanto, não meço esforços para criar memórias agradáveis através da comida. Vivendo aqui, longe da pátria, aprendi a fazer algumas coisas que, com certeza, se eu estivesse vivendo no Brasil não haveria necessidade de fazer. Coxinhas, panetones, bolo de rolo, paçoca, pão de queijo, pastéis e outras gostosuras são algumas das receitas onde me esforcei para aprender, a fim de que nossos filhos pudessem se sentirem em casa.
Comer não é apenas um ato biológico. As organizações e redes sociais integradas ao FBSSANA sinalizam a importância da relação que temos com os alimentos. Ao redor da mesa fazemos encontros sociais que podem ter vários efeitos, desde a troca de informações até mesmo ligações de pertencimento social. Quando estamos comendo, sem percebermos, criamos laços que superam as questões científicas. Por isso, eu não abro mão de eu mesma preparar a nossa comida, falar sobre ela, da origem e nome para que, deste modo, nossos filhos possam sentir que pertencem a uma família com certas tradições e cultura. E assim vamos, comendo cuscuz, baião de dois, bolo de cenoura, e bolo frito de polvilho para não esquecer da vovó
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